Ipea diz que setor privado não consegue enfrentar sozinho as mudanças climáticas

Renovação do Protocolo de Quioto é uma das metas mais importantes para o futuro próximo, garantiu o Instituto

São Paulo – O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), defende a participação mais efetiva do poder público em financiamentos de projetos sustentáveis e considera que a iniciativa privada não terá poderio econômico suficiente para tratar sozinha das questões relacionadas às mudanças climáticas. As afirmações foram feitas nesta segunda-feira (29), pelo técnico de planejamento da instituição, Ronaldo Seroa da Motta, durante um painel sobre o tema, em São Paulo.

O evento Acordo de Copenhague e as Decisões de Cancún no Contexto da Convenção do Clima, mostrou um balanço das decisões de cúpula anunciadas nas conferências mundiais climáticas de Copenhague (Dinamarca, 2009) e Cancún (México, 2010). Ambas tinham o objetivo de firmar ações práticas dos governos em torno da diminuição nas emissões de carbono e de gases-estufa, entre outras. 

O Brasil foi o país que assumiu a meta mais ousada na Dinamarca, se comprometendo a reduzir, até 2020, cerca de 39% de sua emissão do gás. Mas os países têm preferido atender a seus próprios interesses de ordem econômica a tomar efetivas medidas para reduzir os efeitos da emissão de gases.

“Já se observa uma corrida para a economia de baixo carbono. O setor privado se organiza porque percebe que, mais cedo ou mais tarde, sem acordo ou com acordo (entre governos), essa realidade será inevitável. Mas o mercado, por si só, não poderá lidar com os custos das mudanças climáticas”, alertou Seroa.

A primeira convenção voltada a questões climáticas foi realizada em 1997, no Japão. À época tanto o país sede como o Estados Unidos, responsável pelo consumo de 20% da energia mundial, se comprometeram em diminuir a contaminação do ar, firmando o ano de 2012 como data limite para todas as metas estabelecidas. Seroa classificou a renovação desses compromissos como o grande desafio.

“A disputa (econômica) entre Estados Unidos e China precisa ser resolvida. Se o acordo de Quioto não for renovado, com metas mais ambiciosas e vinculantes, na conferência de Durban, em dezembro, teremos um grande retrocesso”, analisou.

Apesar de os países não conseguirem atingir os objetivos globais firmados pelo Protocolo de Quioto, o Ipea ressaltou avanços que merecem certo destaque, como o registro e verificação das metas voluntárias de redução de emissões por parte dos países e a criação de um fundo voluntário verde, com recursos destinados à preservação ambiental, gerido por 24 nações. “Há um compromisso de aporte de US$ 100 milhões anuais. A implementação desse fundo pode ser um incentivo para motivar os países em um acordo global mais completo”, comentou.