Imprevisível

Governo não sabe se óleo no litoral do Nordeste está ‘já acabando’ ou ‘apenas começando’

Quase dois meses após a primeira mancha, Marinha, Petrobras e Ibama não conseguem prever a dimensão do vazamento, nem a sua origem

Fotos Públicas/Léo Domingos
Fotos Públicas/Léo Domingos
População não deve manter contato com petróleo vazado sem a utilização de equipamentos de proteção

São Paulo – Representantes da Marinha, da Petrobras, do Ibama e da Agência Nacional do Petróleo (ANP) foram à Câmara dos Deputados, em Brasília, nesta terça-feira (22), para explicar as ações de contenção e combate ao derramamento de óleo que atinge o litoral do Nordeste desde 30 de agosto, quando apareceram as primeiras manchas nas praias de João Pessoa, na Paraíba. Pouco se sabe, até agora, sobre a origem do vazamento, e o comportamento da chegada do óleo à costa foi classificado como “errático”, “aleatório” e “imprevisível”.

Até esta segunda (21), com a participação das defesas civis estaduais e de voluntários, foram recolhidas 900 toneladas de petróleo cru das praias nordestinas. Petrobras e ANP reafirmam que o material não foi extraído nem comercializado no Brasil. O vazamento pode ter ocorrido numa operação de transferência em alto-mar do óleo de um navio para outro ou num naufrágio de embarcação. Pode ter sido por acidente, ou mesmo intencional. A Marinha, que lidera os esforços de contenção, afirma que todas as hipóteses estão sendo consideradas. O ritmo e a efetividade das ações, por conta da demora em apresentar resultados práticos, vêm sendo criticados pela população e por organizações que lutam pela defesa do meio ambiente.

“É muito óleo para ter sido um acidente não comunicado. Não descartamos nenhuma linha investigativa. Mais importante é saber de onde (o petróleo) saiu e para onde foi. A gente não sabe se estamos (sic) numa ascendente ou descendente no aparecimento do óleo (sic). Manifestações do tipo ‘está acabando’ ou ‘está apenas começando’ não são fundadas em nenhuma base técnica”, afirmou o presidente do Ibama, Eduardo Fortunato Bim.

A grande dificuldade é que o óleo cru que está contaminando o litoral, identificado pelo governo como tendo “DNA venezuelano”, é mais denso que o produzido no Brasil. Devido a tal densidade, ele navega abaixo da superfície marinha, o que praticamente inviabiliza o monitoramento aéreo ou via satélite, bem como o seu recolhimento por navios. Boias de contenção, que estão sendo utilizadas para a proteção de áreas ambientais sensíveis, também não são eficientes, pois foram projetadas para vazamentos que se acumulam na superfície.

O presidente do Ibama também relatou a morte de 77 animais até o momento. Ele destacou que se trata de um produto altamente tóxico, que não deve ser manuseado diretamente pelas pessoas, sem a utilização de luvas e botas de proteção. Também orientou a população a não manipular os animais contaminados pelo óleo, que devem ser tratados pelo agentes ambientais, segundo protocolo específico. “Não as devolvam para o mar de forma alguma. Projetam-nas do sol e chamem os órgãos competentes”, relatou sobre os cuidados com a “fauna oleada”.

Segundo o superintendente de Segurança Operacional e Meio Ambiente da ANP, Raphael Moura, pelos modelos de projeção das correntes marítimas, “tudo indica” que o vazamento ocorreu em águas internacionais, a 500 quilômetros da costa brasileira, ficando fora, portanto, das águas jurisdicionais brasileiras e da sua zona econômica exclusiva.

Assista à íntegra da audiência: