Brasil retrocede no Acordo de Paris e nova meta prevê aumento na emissão de gases
Proposta apresentada pelo Brasil para 2030 projeta 400 milhões de toneladas de gases de efeito estufa a mais do que a meta anterior
Publicado 11/12/2020 - 11h49

São Paulo – A nova meta climática para 2030 apresentada pelo Brasil ao Acordo de Paris, na última terça-feira (8), permitirá ao país emitir 400 milhões de toneladas de gases do efeito estufa a mais do que o previsto na meta original. Para Carlos Bocuhy, presidente do Instituto Brasileiro de Proteção Ambiental (Proam), a ação é um “retrocesso climático”.
O Acordo de Paris completa cinco anos em dezembro e todos os países signatários do compromisso devem apresentar novas versões dos compromissos já assumidos. O Brasil aderiu ao acordo, em 2015, durante a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climática. O objetivo é manter a temperatura do planeta com uma elevação “muito abaixo de 2°C” mas “perseguindo esforços para limitar o aumento de temperatura a 1,5°C”.
Entretanto, cinco anos depois, o Brasil retrocedeu em sua meta de redução no Acordo de Paris. Em 2015, o objetivo era baseado no Segundo Inventário de Emissões de Gases de Efeito Estufa. Agora, tem como base o Terceiro Inventário, que atualizou o valor absoluto dos gases emitidos em 2005 de 2,1 bilhões de toneladas para 2,8 bilhões de toneladas de gases emitidos.
“Agora, ao atualizar o estudo, teve que aumentar a meta. O Brasil perdeu a meta mais ambiciosa, sendo o sexto maior produtor de carbono no mundo. É um retrocesso por meio de uma meta irrisória para conter o aquecimento global”, criticou Bocuhy, em entrevista a Glauco Faria, no Jornal Brasil Atual.
Aquecimento global
Apesar das estimativas do Programa Ambiental da ONU (Pnuma) de que as emissões de carbono caíram 7% em 2020 devido à pandemia de coronavírus, a temperatura da Terra deverá aumentar em 3,4º até 2100 mesmo se as metas atuais forem cumpridas.
O presidente do Proam afirma que o aquecimento global representa um problema para o Brasil, em diversas escalas. “Nosso país tem uma costa imensa, o que preocupa. Porém, também dependemos muito da agricultura para sobrevivência econômica, e se a temperatura subir mais, não se tem capacidade de prever a reação da produção agrícola”, acrescentou.
Em novembro de 2021, a conferência sobre o clima COP 26, que será na cidade escocesa de Glasgow, não deverá contar com o Brasil. Carlos Bocuhy lembra que o país se tornou um negacionista em relação aos problemas climáticos e é mal visto na reunião.
“Os países estão selecionando os participantes, evitando a entrada de nações contrárias às metas. A tendência é que os países que querem combater as mudanças climáticas deixarão para trás quem estiver no caminho oposto.”, afirmou.
O Brasil aumentou a emissão de gases em 10% entre 2018 e 2019, principalmente por conta das queimadas na Amazônia. O presidente do Proam lembra que o país não tem mais moral de fazer exigências e apelos financeiros. “Na ONU, o Brasil tem atacado outros países, dito coisas impróprias sobre questões ambientais e de direitos humanos. O país está impossibilitado de discussão com outros países sobre modelos civilizatórios. Estamos perdendo a capacidade de diálogo e liderança”, finalizou.