Aquecimento global

Sem redução nas emissões de CO2, Brasil deve descumprir Acordo de Paris

País não incorporou trajetória consistente de redução de gases do efeito estufa. Em 2019, emissão devem subir devido ao "boom" de desmatamentos na Amazônia

ESA/NASA – L.Parmitano
ESA/NASA – L.Parmitano
Em agosto, queimadas na Amazônia foram captadas pela Estação Espacial

São Paulo – As emissões de gases de efeito estufa no Brasil se mantiveram estáveis em 2018, mas os desmatamentos e queimadas produziram 29 milhões de toneladas a mais de poluentes na atmosfera no mesmo período. As emissões brutas somaram 1,939 bilhão de toneladas de CO2 (gás carbônico) equivalente, índice 0,3% maior do que em 2017, segundo o Sistema de Emissões de Gases de Efeito Estufa (Seeg), do Observatório do Clima, em dados divulgados nesta terça-feira (5). Em todo o país, as emissões por mudança de uso da terra cresceram 3,6%, no ano passado, e representam 44% do total. Só na Amazônia, houve elevação de 8,5%.

Apesar das reduções no setor de energia e na agropecuária, a estabilidade geral e a mudança do perfil das emissões indicam que o Brasil não deverá cumprir as metas estabelecidas no Acordo de Paris, esforço internacional para barrar o avanço do aquecimento global. A situação se agrava por conta do “desmonte” das estruturas de fiscalização ambiental promovido pelo governo Bolsonaro, segundo o observatório, que deve levar a um boom de desmatamento na Amazônia. Mesmo que todo esse desmatamento parasse hoje, a elevação detectada pelo sistema de monitoramento do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) nos últimos meses já comprometeu a meta estabelecida em lei, após a assinatura do acordo internacional, para reduzir o desmatamento em 80% até 2020.

“Em 2019, os planos de combate ao desmatamento na Amazônia e Cerrado foram engavetados e não temos nem mesmo um esboço de plano para a implementação da NDC, que deveria ocorrer a partir do ano que vem. Na verdade, até os órgãos que deveriam implantar a NDC foram extintos pela atual administração”, afirmou o secretário-executivo do observatório, Carlos Rittl. A NDC (Contribuição Nacional Determinada, em inglês) é o mecanismo de metas de redução estabelecido pelo Acordo de Paris para cada país signatário.

Desmatamento

Nos dois anos anteriores (2016 e 2017), as emissões decorrentes da devastação da vegetação vinham em queda (0,4% e 4,2%, respectivamente). Em 2019, elas deverão sofrer crescimento importante, devido à explosão no desmatamento na Amazônia e no Cerrado, de acordo com o coordenador do Seeg, Tasso Azevedo. “O desmatamento deste ano ainda não está capturado nesta estimativa”, afirmou.

A agropecuária respondeu por 25% das emissões, em 2018, com queda  de 0,7% em relação a 2017, totalizando a liberação de 492 milhões de toneladas de CO2 equivalente. Em terceiro lugar, o setor de energia contribuiu com 21% das emissões, tendo registrado queda de 5%, devido ao aumento no uso de etanol no transporte de passageiros, à adição obrigatória de biodiesel ao diesel e pelo incremento de renováveis na geração de eletricidade. O setor industrial, que responde por 5% do total das emissões, registrou aumento de 1%, em relação ao ano anterior. Outros 5% decorrem da liberação de decorrentes da decomposição de resíduos, que registraram crescimento de 1,3%.