Autoridade ambiental do RJ aponta avanço de ’40 anos em 4′

André Ilha, diretor de Biodiversidade e Áreas Protegidas do Inea, descreve ações na área

André Ilha (à esquerda), ao lado de Minc e Cabral, em inauguração de março de 2008 (Foto: Jorge Machado/Inea Divulgação)

Rio de Janeiro – Conhecido militante ambientalista do Rio de Janeiro, ex-presidente do Instituto Estadual de Florestas (IEF) e atual diretor de Biodiversidade e Áreas Protegidas do Instituto Estadual do Ambiente (Inea), André Ilha é um dos principais mentores dos projetos de ampliação, regularização fundiária e modernização de gestão nas Unidades de Conservação do estado.

Em 2002, durante o governo de Benedita da Silva (PT), foi o responsável, no IEF, pela criação do Parque dos Três Picos, o maior do estado, que permitiu a viabilização do corredor da Mata Atlântica. Adepto do montanhismo há mais de 20 anos, Ilha também participou da elaboração do decreto que regulamenta o uso público nos parques fluminenses. Ele fez um bate-bola exclusivo com a Rede Brasil Atual.

Qual sua avaliação sobre o atual panorama da preservação da Mata Atlântica no Rio de Janeiro?

 

O que tem acontecido na agenda verde nos últimos anos é uma verdadeira revolução. Digo isso com muita tranqüilidade porque, como ambientalista, passei décadas cobrando avanços que agora estão vindo em uma verdadeira enxurrada. Só foi possível obter esse avanço concreto graças ao apoio imenso que o governador Sérgio Cabral tem dado a todas as iniciativas que partem da Secretaria do Ambiente e do Inea. Temos colecionado avanços de uma forma tal que não é exagero dizer que nós, em quatro anos, estamos recuperando o atraso de quarenta anos de inércia, de descaso e de desmantelamento do setor ambiental.

Como está se dando a ampliação das Unidades de Conservação no Rio de Janeiro?

A política de expansão das áreas protegidas estaduais no Rio é notável. Começou pela duplicação do Parque Estadual da Ilha Grande. Depois, nós criamos o Parque do Cunhambebe, no Sul do estado, que é o segundo maior do Rio, com 38 mil hectares. Tivemos também a polêmica ampliação do Parque Estadual da Serra da Tiririca que, apesar de pequena, foi muito importante por contrariar os interesses da especulação imobiliária na região oceânica de Niterói.

Depois, tivemos uma grande ampliação do Parque dos Três Picos, que já era o maior parque estadual e ganhou 12 mil hectares, passando a quase 60 mil hectares na Região Serrana. Tivemos a duplicação da Reserva Biológica de Araras e a criação da Área de Proteção Ambiental (APA) do Guandu, com 70 mil hectares, que é voltada principalmente para a preservação da qualidade e da quantidade da água da bacia do Guandu, que abastece nove milhões de pessoas na região metropolitana.

Os parques já estão em funcionamento?

Uma vez criados, nós precisamos implantar esses parques. Nesse sentido, a gerência das unidades de conservação de proteção integral, assim como as de uso sustentável, estão numa atividade frenética de implantação de sedes, subsedes, guaritas, centros de visitantes, estruturas de uso público para que esses parques estejam implantados e tenham visibilidade.
Temos ainda um terceiro ponto, pois uma vez criado e implantado o parque, é preciso gerir. Nesse sentido, esse decreto é importante, pois estabelece as normas para o uso daquelas unidades que são as mais abundantes em área e também as mais populares.

Qual a importância do decreto assinado na quinta-feira (27) pelo governador que define normas sobre o uso público dos parques?

É um decreto que não é demófobo, ou seja, é um decreto que convida as pessoas a conhecerem essas áreas, baseado na premissa de que é preciso conhecer para amar e amar para preservar. Parece um clichê, mas é a verdade. A partir do momento que você oferece boas condições de visitação e estabelece estratégias diferenciadas para receber visitantes com perfis diferenciados, não tratando a todos como se fossem depredadores potenciais e incapazes de dar dois passos numa trilha sem serem conduzidos por uma babá, então você tende a ter uma maior satisfação dos usuários no sentido de que cada um poderá fazer, respeitando as normas e com responsabilidade, aquilo que mais lhe atrai dentro de uma área protegida qualquer. Com isso, nós queremos multiplicar em muitas vezes o número de defensores desses parques e dessas áreas protegidas.

O corredor da Mata Atlântica no Rio já é uma realidade?

Quem vê o mapa da cobertura florestal remanescente do Rio de Janeiro, vê que grande parte das florestas que se mantém de pé até hoje se encontram ao longo de uma espinha dorsal que atravessa o estado quase todo _ começando na divisa com São Paulo e indo até Campos dos Goytacazes _ que corresponde a Serra do Mar. Esse corredor verde, embora já tivesse algumas importantes unidades de conservação, como a Reserva Biológica do Tinguá, o Parque Estadual dos Três Picos, o Parque Nacional da Serra dos Órgãos e o Parque Estadual do Desengano, ainda tinha muitas e preocupantes lacunas.

Neste governo, nós temos trabalhado intensamente no sentido de preencher essas lacunas com unidades de conservação estaduais, estimulando a ampliação das unidades federais e a criação de RPPNs (Reservas Particulares do Patrimônio Natural). Estamos também estimulando e dando apoio efetivo e direto à criação de parques municipais, no sentido de garantir a preservação do que sobrou, a restauração e a conseqüente reconexão de fragmentos naquelas áreas que porventura foram degradadas. Isso, porque para a sobrevivência de determinadas espécies vegetais e principalmente animais, é necessário que você tenha grandes contínuos florestais. Reservas e parques pequenos não dão sustentação a determinados animais. Você precisa de grandes extensões, e a gente tem feito isso com grande sucesso.