São Paulo

Crise hídrica: sistemas Cantareira e Alto Tietê estão no menor nível em seis anos

Estado sofre com problema estrutural de falta d’água, agravado por política da Sabesp que privilegia o lucro, em vez de combater o desperdício, aponta especialista

Divulgação/Sabesp
Divulgação/Sabesp
Sistema Cantareira opera atualmente com com 43% da capacidade

São Paulo – Dados do sistema de acompanhamento dos mananciais da Sabesp mostram que a situação dos reservatórios da Grande São Paulo indica a proximidade de uma nova crise hídrica na região. O sistema Cantareira, responsável pelo abastecimento de quase 9 milhões de pessoas, iniciou o chamado período seco, que vai de abril a outubro, no nível mais baixo dos últimos seis anos, com 43% da capacidade. O sistema Alto Tietê tem hoje 59,6% com água, também o nível mais baixo desde 2017.

Por sua vez, os sistemas Guarapiranga e Rio Grande estão em níveis melhores do que no ano passado, com 91% e 103%, respectivamente. No conjunto, os sete reservatórios paulistas iniciaram o período seco no mesmo nível de 2021, com média de 59,7% da capacidade. Mas se comparado a 2018, quando ainda não existia o sistema São Lourenço, há menos água nas represas em 2022, o que pode agravar a situação do abastecimento, a depender das chuvas.

Para o consultor do Observatório dos Direitos à Água e ao Saneamento (Ondas), Amauri Pollachi, a situação é preocupante, já que a grande São Paulo vive num risco constante de falta de água e crise hídrica. “A situação de abastecimento de água, principalmente a reservação dos mananciais na região metropolitana de São Paulo, está constantemente sob risco, porque é uma região que tem naturalmente escassez. Ali, a disponibilidade de água por habitante é sete vezes menor do que no estado do Pernambuco, por exemplo”, afirmou o especialista ao repórter Rodrigo Gomes, para o Jornal Brasil Atual da sexta-feira (8).

“Temos uma questão estrutural, geográfica, de muita gente concentrada num espaço que tem pouca água disponível. E por isso nós precisamos olhar com muita atenção a todos os reservatórios responsáveis pelo abastecimento hoje. É uma situação que exige muito cuidado”, acrescentou.

Chuvas fora de lugar

Embora o início de 2022 tenha sido marcado por chuvas, elas se concentraram nas cidades, fora das regiões dos mananciais. Apenas em janeiro choveu dentro ou acima do esperado em todos os reservatórios. No mês de fevereiro, só o sistema Rio Claro recebeu água acima da média. Em todos os demais, no entanto, as chuvas ficaram bastante abaixo do esperado. E no mês de março quase não choveu no Cantareira e no Alto Tietê.

Pollachi ressalta que seria muito importante que a Sabesp e o governo paulista estimulassem o uso consciente da água, tanto pela população como principalmente pelas empresas. Além disso, ele também sugere investimentos em ações que melhorem a gestão dos sistemas e permitam o melhor aproveitamento da água.

O conselheiro do Ondas destaca ainda ser importante investir na redução de perdas de água, que é um problema histórico e muito grave na Grande São Paulo. “O modo de cálculo da tarifa da Sabesp não privilegia o investimento em redução de perdas. Com isso, não é tão atrativo para as empresas investir fortemente nessa redução. O que existe hoje é muito mais uma busca para se obter lucro“, criticou. Mas, diz Pollachi, importante mesmo seria a Sabesp buscar eficiência operacional máxima, principalmente numa área em que existe escassez estrutural de água.

Desde a crise hídrica de 2014/2015 na região da capital paulista, a Sabesp integrou as redes de distribuição dos reservatórios na grande São Paulo, o que garante um nível maior de segurança. Assim, se um reservatório estiver em situação mais complicada a água pode ser trazida de outra represa, minimizando os impactos da falta de chuvas. Mas o gerenciamento pode ser insuficiente, caso o período de poucas chuvas prolongar por um longo período, o que é imprevisível

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