Emergência

Devastação ambiental deve levar a novas pandemias, alerta ONU

Professor Wagner Ribeiro (USP) destaca que desmatamento na região amazônica pode levar ao surgimento e disseminação de doenças

Bruno Kelly/Amazonia Real
Bruno Kelly/Amazonia Real
Alertas de incêndio na região amazônica registraram recorde em agosto, segundo o Imazon

São Paulo – O quinto relatório Panorama da Biodiversidade Global (GBO-5, em inglês), publicado pela Convenção das Nações Unidas sobre a Diversidade Biológica (CBD) nesta terça-feira (16), aponta que os países precisam redobrar os esforços em políticas de preservação do meio ambiente.

A secretária-executiva da CDB, Elizabeth Maruma Mrema, alertou que a taxa da perda de biodiversidade não tem precedentes na história da humanidade e as pressões estão se intensificando. O risco, segundo ela, é que a devastação ambiental colabore para o surgimento de novas doenças desconhecidas.

“À medida que a natureza é degradada, surgem novas oportunidades para a disseminação de doenças devastadoras, como a covid-19. Temos pouco tempo disponível, mas a pandemia também demonstrou que mudanças transformadoras são possíveis quando necessárias”, adverte.

O relatório revelou que, dez anos depois, nenhuma das Metas da Biodiversidade de Aichi, definidas em 2010 no Japão para proteger a biodiversidade e a vida selvagem, foi atingida.

O documento denuncia, por exemplo, o gasto de cerca de US$ 500 milhões em subsídios governamentais concedidos durante a última década para a produção combustíveis fósseis, fertilizantes e pesticidas que contribuem para o declínio da biodiversidade. Por outro lado, também destaca o lançamento de 260 mil toneladas de resíduos plásticos nos oceanos.

Amazônia

Para o professor Wagner Ribeiro, do programa de pós-graduação em Ciência Ambiental da Universidade de São Paulo (USP), o atual estágio de devastação “é muito preocupante”. Em entrevista a Glauco Faria, no Jornal Brasil Atual desta quarta-feira (16), ele disse que, por enquanto, o Brasil teve “sorte”, pois o desmatamento acelerado na Floresta Amazônica já poderia ter acarretado no surgimento e disseminação de doenças desconhecidas.

“Estamos rompendo as barreiras biogeográficas e nos colocando em situação de risco de ter contato com novos vírus. Como foi o caso do sars-cov-2, por exemplo. É preciso evitar o desmatamento, inclusive para prevenir novas situações de emergência de saúde pública internacional, como estamos vivendo agora.”

Os dados, entretanto, apontam para o caminho oposto da preservação. Relatório divulgado também nesta terça (15) pelo Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) aponta que os alertas de desmatamento na região amazônica subiram 68% em agosto de 2020, na comparação com o mesmo período do ano passado. É o pior resultado registrado para o mês em dez anos de levantamento.

Na mesma linha, o programa Queimadas, do Inpe, registrou 20.485 focos de calor na primeira quinzena de setembro. Este número já é maior do que os focos registrados em todo o mês de setembro do ano anterior.

Mourão minimiza

Em vez de tomar medidas efetivas no combate aos incêndios que destroem a floresta, o vice-presidente Hamilton Mourão preferiu colocar a culpa na oposição. “É alguém lá de dentro (do Inpe) que faz oposição ao governo”, afirmou. Ele comanda o Conselho da Amazônia, responsável por articular políticas de preservação e desenvolvimento para a região.

“Na verdade, estamos diante de uma situação muito preocupante, onde o nível de desmatamento é agudo e não para. Estamos assistindo a um crescimento, ano a ano. Mas as ações que estão sendo desenvolvidas, com custo elevado inclusive, envolvendo as Forças Armadas, não estão dando resultado”, ressaltou Ribeiro.

Assista à entrevista:

Redação: Tiago Pereira. Edição: Glauco Faria