Governo Bolsonaro não pode usar covid-19 para minar meio ambiente, diz relator da ONU
Em reunião ministerial, Ricardo Salles sugeriu aproveitar as atenções voltadas ao combate a pandemia “passar a boiada” na legislação ambiental
Publicado 25/05/2020 - 12h32
São Paulo – O relator especial das Nações Unidas sobre as Implicações para os Direitos Humanos da Gestão e Disposição Ambientalmente Adequada de Resíduos e Substâncias Tóxicas, Baskut Tuncak, alerta que o governo Bolsonaro não tem direito de usar a covid-19 como uma cortina de fumaça para ampliar o desmatamento.
Durante a reunião ministerial de 22 de abril, divulgada na sexta-feira (22), o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, disse que era o momento de aproveitar que a imprensa estava envolvida com a cobertura da pandemia para passar a “boiada” e aprovar medidas na área ambiental que encontrariam resistência no Congresso.
Na manhã desta segunda-feira (25), um grupo de ambientalistas se reuniu em frente ao prédio do ministério, em protesto, pedindo o impeachment de Salles.
“O governo não deve usar a covid-19 como cortina de fumaça para minar ainda mais a proteção do meio ambiente, da saúde pública e dos trabalhadores”, afirmou Tuncak em entrevista ao repórter Jamil Chade, do portal Uol.
O relator da ONU alertou para a relação existente entre a exposição à poluição e o aumento da contaminação pelo novo coronavírus. Ele disse que a inação do governo brasileiro em relação à disseminação da doença repete a mesma falta de esforços em outras questões ambientais que afetam a saúde da população, como a liberação indiscriminada de agrotóxicos.
Ele também disse estar “profundamente preocupado” com a situação dos povos indígenas no Brasil, um dos grupos mais afetados pela pandemia, junto com as populações das favelas e periferias.