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Quase sete meses depois, óleo ainda mancha praias da Bahia

Marés arrastam resíduos que ficaram presos em pedras e na areia. Cerca de oito toneladas de petróleo foram retiradas de praia de Camaçari nos primeiros dias de março

Arquivo EBC
Arquivo EBC
Geógrafo da USP critica falta de resposta do poder público, principalmente do governo federal, no amparo e na pesquisa dos impactos do desastre

São Paulo – As manchas de óleo que, no final de agosto do ano passado, atingiram o litoral do Nordeste, voltaram a aparecer na praia de Itacimirim, em Camaçari, litoral norte da Bahia, que faz parte da região metropolitana de Salvador. De acordo com o grupo Guardiões do Litoral, pelo menos oito toneladas de óleo já foram recolhidas no local desde o início deste mês.  As informações foram confirmadas pelo portal G1 nesta terça-feira (10).

Segundo o grupo que, com apoio de voluntários, faz a retirada do óleo nas praias baianas, não se trata de novas manchas. Em entrevista à jornalista Marilu Cabañas, da Rádio Brasil Atual, o professor do Departamento de Geografia e do Programa de Pós-graduação em Ciência Ambiental da Universidade de São Paulo (USP) Wagner Ribeiro concorda e explica que o material faz parte dos resquícios que ficaram alojados em pedras e na areia por ser um óleo mais denso. 

De acordo com o geógrafo, a dinâmica das marés que, ao longo do tempo, adquire maior ou menor capacidade de transportar sedimentos, fez com o óleo soterrado fosse arrastado. Os integrantes do Guardiões do Litoral estimam que outras 25 toneladas do material sólido ainda estejam soterrados. “É um material de grande volume e ao mesmo tempo de enorme impacto ambiental”, alerta Ribeiro. 

Crustáceos e microorganismos que vivem naquela faixa litorânea foram diretamente prejudicados pelo desastre ambiental, aponta o geógrafo, o que deve provocar futuros impactos negativos em toda a cadeia alimentar e da reprodução da biodiversidade da região. Além disso, o professor também cita efeitos sobre o turismo e, principalmente, a contaminação dos pescados, o que deve afetar a economia da região. 

“Isso demanda atenção das autoridades, mas a gente não tem assistido, infelizmente, uma resposta compatível, especialmente do governo federal”, contesta Wagner Ribeiro sobre a gestão de Jair Bolsonaro. 

Nesta terça, na Câmara, durante a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que apura o vazamento de óleo nas praias do Nordeste, pescadores e pesquisadores da Bahia denunciaram a falta de respostas quanto à apuração das responsabilidades pelo desastre ambiental e sobre a dimensão do impactos da contaminação do ambiente e dos pescados para a saúde humana, além da inação dos órgãos públicos.

“Precisa retirar esse material e dar um destino adequado, e esse destino não é algo muito simples. Você não pode queimar – como o governo federal está querendo fazer. É preciso, ao mesmo tempo, avaliar os impactos dos resíduos que já estão nos microorganismos e nos pescados. Isso exige pesquisa, demanda e imediatamente suspender o consumo de crustáceos e peixes da região.”