‘Menina dos olhos’ da ONU para a Rio+20, economia verde é vista com ceticismo por especialistas

São Paulo – Visto como um dos mais importantes conceitos a serem tratados na Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, a economia verde é considerada também […]

São Paulo – Visto como um dos mais importantes conceitos a serem tratados na Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, a economia verde é considerada também um modelo econômico que, se resultar de um consenso, poderá “sair do papel” durante a convenção. Especialistas mais céticos quanto ao conceito, porém, não veem de forma tão positiva a prioridade dada à economia verde, ou mesmo a grande importância a ela depositada.

Durante o seminário “Descontruindo a crise civilizacional. Um olhar sobre a Rio+20”, realizado hoje (16), no Ministério Público Federal, em São Paulo, o economista e professor da Pontífice Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Ladislau Dowbor, afirmou que o termo economia verde é igual à economia sustentável ou desenvolvimento sustável, com a simples diferença de ser mais “simpático”. Dowbor considera, contudo, que independente do que seja chamada, a transição para uma outra economia deve ser baseada não somente na produção, mas sim ” no que realmente é necessário produzir”, de maneira que não seja destrutivo para o planeta.

“Tanto em termo de esgotamento dos recursos naturais como em termos de impactos climáticos, se trata de produzir para o conjunto da população do planeta. Nós temos hoje 1 bilhão de pessoas que passam fome, 180 milhões são crianças. Pode chamar de verde, sustentável, ou o que for, mas tem que se ter uma visão integrada, de um desenvolvimento decente”, ressaltou o professor.

Ainda de acordo com Dowbor, antes de discutir a aplicabilidade da chamada economia verde, a discussão de governança ambiental global deveria ser priorizada, “porque se não mudamos os mecanismos de apropriação dos recursos, que são profundamente injustos hoje, as coisas não avançam. Se a gente nao tem processos decisórios, o planeta será destruído pelos interesses de uma minoria, isso é absolutamnte inviável”, pontuou.

A economia verde e o efeito paliativo

Em fevereiro deste ano, o Programa das Nações Unidas para Meio Ambiente (Pnuma) publicou um artigo sobre economia verde, destacando a importância do “esverdeamento” da economia. No relatório, o Pnuma ressaltou a economia de baixo carbono não apenas para países desenvolvidos, mas também como um catalisador-chave para o crescimento e erradicação da pobreza no mundo.

Durante o seminário desta tarde, o engenheiro e membro da Comissão Pastoral da Terra (CPT), frei Rodrigo Peret, foi mais taxativo. Ele criticou o documento do Pnuma, considerando que a economia verde, dita como ainda inexistente pela ONU, não é mais algo abstrato. Ele explica que mecanismos de desenvolvimento limpo, como créditos de carbono e o REDD (Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação), já desenham o que seria uma economia verde. “A discussão da economia verde é uma discussão perdida, assim como é o desenvolvimento sustentável, porque eles se tornaram políticas mitigatórias e compensadoras”, defendeu.

“Neste sentido (da economia verde), a natureza é vista como capital natural, e os ecossistemas, um estoque desse capital, que vai criar lucro regulado pelo mercado”, lamentou. Peret afirma que o paradigma trazido por esse conceito de economia verde pode significar a posse da própria vida humana e da natureza.