Confissão do crime

PM admite culpa por massacre em Paraisópolis, mas responsabiliza pais dos jovens mortos

Relatório da Corregedoria da PM ainda alega “legítima defesa”. Familiares das vítimas reagem com críticas à isenção de responsabilidade por parte dos agentes

Daniel Arroyo
Daniel Arroyo
"É crueldade demais. É me massacrar mais uma vez. Eles já massacraram meu filho, levaram meu filho à morte", lamentou a mãe de um dos jovens mortos pelo Estado

São Paulo – Agentes da Polícia Militar de São Paulo foram os responsáveis pela morte de nove jovens durante uma ação policial em Paraisópolis, zona sul da capital paulista, ocorrida no dia 1º de dezembro de 2019. É o que aponta relatório final de Corregedoria da PM divulgado nesta quinta-feira (5) pelo jornal Folha de S. Paulo.  No documento em que se admite a responsabilidade dos agentes, no entanto, o órgão cita “legítima defesa” para pedir absolvição dos PMs envolvidos. 

Para o presidente do inquérito da corporação, capitão Rafael Oliveira Casella, os policiais teriam agido em defesa própria e de terceiros ao serem atacados com “garrafas, paus, pedras e demais objetos”, como informa reportagem do Seu Jornal, da TVT. Pelo Twitter, a deputada federal Sâmia Bomfim (Psol-SP) avaliou a responsabilidade dos agentes apontada pelo relatório como uma admissão “do óbvio” e disse que o argumento de legítima defesa para excludente de ilicitude é um “absurdo”. 

“Os nove jovens mortos em Paraisópolis no final de 2019 foram assassinados por policiais. No entanto, de maneira absurda, é alegada legítima defesa. As imagens mostram o contrário. Foi uma emboscada que resultou em chacina”, contestou a deputada. 

O relatório da Corregedoria da PM ainda aponta corresponsáveis pelo massacre, entre eles, os pais e responsáveis pelos jovens que foram assassinados. “É muita cara de pau”, criticou a deputada federal Margarida Salomão (PT-MG) pelas redes sociais. Ao portal UOL, Maria Cristino Quirino, mãe do adolescente Denys Henrique Quirino, de 16 anos, que está entre as vítimas do Estado, disse a ação da Corregedoria “é crueldade demais”. No relatório, o órgão também defende o arquivamento do inquérito. 

“A minha parcela de culpa pelo meu filho estar naquele baile eu já carrego comigo. Agora, eles quererem jogar em mim a culpa da morte e isentar eles (PMs) é crueldade demais. É me massacrar mais uma vez. Eles já massacraram meu filho, levaram meu filho à morte”, lamentou a mãe. O presidente no inquérito sugere que a investigação ocorra agora para apurar falhas na atuação dos policiais, que operaram com o GPS das viaturas desligado.

Confira a reportagem da TVT