Sem-terra

MST se mobiliza pela volta de Dilma com pauta que a elegeu em 2014

'Nós não reconhecemos o governo golpista, que, aliás, não dá pra dizer que é governo Temer, mas governo Cunha-Temer”, diz um dos coordenadores do movimento

Divulgação/MST

MST protesta na Esplanada dos Ministérios, após votação do Senado que afastou Dilma Rousseff

São Paulo – O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) não apenas não reconhece o governo Michel Temer e as políticas já anunciadas, como trabalha com a perspectiva de retorno da presidenta Dilma Rousseff após o período de afastamento e o julgamento pelo Senado Federal, que tem prazo de 180 dias para chegar ao fim. “Nós não reconhecemos o governo golpista do Temer, que, aliás, não dá pra dizer que é governo Temer, mas governo Cunha-Temer”, diz Alexandre Conceição, da coordenação nacional do MST.

“A pauta que elegemos em 2014 foi de desenvolvimento social, distribuição de renda e soberania nacional. Eles vêm impondo uma pauta neoliberal, de retirada de direitos dos trabalhadores e privatização das estatais e da Previdência, para jogar os aposentados na lata do lixo”, afirma. “O governo Temer, em sete dias, levou o governo aos anos 70, 80 e 90.”

Em relação à questão agrária, ele aponta a extinção Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) como um duro golpe na agricultura familiar, que produz 75% dos alimentos consumidos no Brasil. A política do governo interino atinge especialmente a juventude e inviabiliza a reforma agrária, que já estava praticamente paralisada no governo Dilma.

“Reforma agrária não é uma política de compensação social, é uma política de desenvolvimento social do Brasil, de garantia da agroindústria para os camponeses, da produção de alimento saudável, da manutenção da juventude no campo. Essa juventude, no futuro, será responsável pela produção de alimento para este país”, diz Conceição. “Para isso, desejamos a reforma agrária, e que a presidenta Dilma, ao retornar, de imediato comece a fazer a reforma junto com os movimentos sociais.”

Com a MP 726/16, Temer extinguiu o MDA e o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome e criou o Ministério do Desenvolvimento Social e Agrário.

Para o militante do MST, o retorno de Dilma é viável com mobilização nas ruas, ocupações, unidade com a Frente Brasil Popular e outras organizações. “Será uma grande batalha para derrotar o golpe.” Inclusive, diz, porque grande parte da população que apoiou o impeachment já se arrependeu da atitude.

“Muitos daqueles que estavam nas ruas pedindo o impeachment já estão envergonhados, porque perceberam como foi a votação do dia 17, como foi a admissibilidade no Senado, e estão percebendo e sentindo na carne agora o que é um governo golpista.”

Para Conceição, os movimentos sociais devem sobretudo fazer “muita pressão e escracho sobre aqueles parlamentares golpistas do Senado, para reverter os votos e a presidenta Dilma retornar ao seu posto”. Mas ele ressalva: “Vamos defender sempre o mandato da Dilma e a democracia, mas o ano de 2015 foi um ano de desapropriação zero. O governo precisa fazer essa autocrítica, desapropriar e enfrentar o latifúndio”, afirma. “Derrotar o golpe significa o retorno da Dilma, mas o retorno significa mudança na política econômica da própria presidenta Dilma, com a pauta que a gente elegeu e não a pauta neoliberal do ministro Joaquim Levy.”

Nos últimos dez anos, mais de 100 milhões de hectares de terra foram concentrados nas mãos do latifúndio, “justamente por essa inércia do governo em enfrentar o latifúndio”.

Há atualmente, de acordo com Conceição, mais de 120 mil famílias acampadas no país, que têm sido objeto de ações violentas principalmente no Paraná, Pará, Minas Gerais, Pernambuco, Alagoas e em todas as regiões do Brasil. “Estamos sofrendo muitas ações de despejo por conta desse golpe midiático-jurídico com apoio das polícias militares.”