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Na Espanha, Lula recebe título e diz que Brasil cumpriu sonho ‘de Quixote’

'Tivemos de enfrentar o preconceito das elites', diz ex-presidente, homenageado em Salamanca por seu trabalho pela universalização do ensino. Agora ele conta com 27 honoris causa. frente a 29 de FHC

Ricardo Stuckert/Instituto Lula

Lula aproveitou a ocasião para criticar a demora do Brasil em ensinar o espanhol nas escolas

São Paulo – O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu hoje (23) o título de doutor honoris causa da Universidade de Salamanca, na Espanha. É o 27º título dessa natureza recebido por Lula. Desta vez, segundo a instituição – criada em 1218 –, pelo seu esforço para universalizar a educação no Brasil. O reitor Daniel Hernández Ruipérez citou o Programa Universidade para Todos (ProUni) como “o programa de becas mais ambicioso da história da América Latina”, ao garantir acesso ao ensino superior a estudantes de baixa renda. Na própria universidade espanhola, há pouco mais de 300 estudantes brasileiros, sendo 50 do ProUni Internacional.

Lula citou também o Programa de Apoio ao Plano de Reestruturação e Expansão da Universidades Federais (Reuni) e o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies). “Tivemos de enfrentar o preconceito das elites, que nunca confiaram na capacidade do povo brasileiro”, afirmou. Segundo ele, em 11 anos (os oito de seu governo mais três da presidenta Dilma Rousseff) o número de estudantes universitários saltou de 3 milhões para 7 milhões, além de triplicar o orçamento para educação, hoje em torno de € 33 bilhões.

O ex-presidente enfatizou o crescimento da economia em bases sustentadas, que teve como resultado mais importante a saída de 36 milhões de brasileiros da pobreza extrema, a inclusão de 42 milhões na classe média e a criação de 21 milhões de empregos formais nesses 11 anos. E, citando o mais famoso personagem de Miguel de Cervantes, afirmou que o Brasil, ao reduzir as desigualdades internas e se afirmar internacionalmente, realizou “o que parecia um sonho de Quixote”.

O mais importante agora, segundo Lula, é justamente garantir a educação de crianças e jovens. “Libertar-se de um ciclo histórico de desigualdade e injustiça foi apenas o primeiro passo.” Ele destacou ainda a abertura de 18 universidades, 146 campi e 365 escolas técnicas, e a adoção de um sistema de cotas para favorecer o acesso de negros e índios.

Lula lembrou ainda que uma das primeiras medidas do governo, em sua gestão, foi adotar o estudo do espanhol como segundo idioma no currículo escolar. “É lamentável que essa decisão tenha demorado tanto, diante dos laços históricos e culturais que unem Brasil, Espanha e nossos vizinhos da América do Sul”, criticou. Para ele, a adoção do espanhol é coerente com a consolidação do Mercosul e a criação da União das Nações Sul-Americanas (Unasul) e da Comunidade de Estados Latino-Americanos e do Caribe (Celac). “Os países da América Latina têm origens comuns, e as diferenças de idioma não podem constituir um obstáculo à integração.”

Com 27 títulos honoris causa, Lula se aproxima do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que tem 29.

O reitor da Universidade de Salamanca defendeu a implementação de um espaço ibero-americano de ensino superior. “Temos de dar passos ainda mais decididos para uma livre circulação de estudantes com reconhecimento dos estudos realizados em outras instituições”, disse Ruipérez.

O padrinho de Lula, Gonzalo Gómez Dacal, ex-diretor do Centro de Estudos Brasileiros da universidade, destacou o compromisso ético do ex-presidente. “Quando o exercício da política, como no caso de Lula, produz mudanças que buscam a dignidade, o bem-estar e o desenvolvimento livre das pessoas, tem os mesmos objetivos da ciência, que não são outros de desenvolver tecnologias que satisfaçam necessidades pessoais e sociais.”