Candidatura de Eduardo Campos faz barulho, mas deverá ‘voltar à prancheta’

Eduardo Campos, pré-candidato a candidato em 2014 (Eduardo Araújo/ABr) Parecia que o panorama esta perfeito para o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), lançar-se candidato à presidência da República em […]

Eduardo Campos, pré-candidato a candidato em 2014 (Eduardo Araújo/ABr)

Parecia que o panorama esta perfeito para o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), lançar-se candidato à presidência da República em 2014, com grandes chances de vitória. Bastaria espalhar por aí sua candidatura, que tucanos voariam em revoada em sua direção. Como ele também é político jeitoso no trato, de boa conversa e com jogo de cintura, então políticos, banqueiros e empresários “magoados” com a presidenta Dilma viriam buscar o ombro amigo dele. Junte-se eventuais insatisfeitos na base governista pelos resultados das disputas por espaço no governo. E, com o currículo ostentando ter sido aliado de Lula, Campos teria a combinação perfeita para ser o candidato da oposição sem parecer oposição. 

Os correligionários de Campos espalharam sua que ele seria candidato, para ver se a história “decolava”, sobretudo com objetivo de angariar adesões neste primeiro momento. Por sua vez, o próprio estimula o blefe mas, espertamente, deixa espaço para um recuo. Um plano aparentemente perfeito.

Ou ele conquistaria apoios e eleitores suficientes para vencer em 2014, ou perderia, mas já se projetando para 2018. Mesmo que sua candidatura nem se viabilize, ele “valorizaria o passe”, ou seja, ficaria em posição mais forte para negociar apoio à reeleição de Dilma em troca de o PT apoiar mais candidatos a governador e senador do PSB (o que já ocorreu em 2010 em alguns estados).

Assim, Campos teria um PSB com ampla dimensão nacional para pavimentar seu caminho até 2018. Parece que não haveria como um plano destes dar errado pois, em tese, de uma forma ou de outra, ele sairia sempre ganhando. Mas, como se diz no jargão do futebol, sobre as jogadas ensaiadas durante os treinos: faltou combinar com o adversário…

A canoa de Campos já mostra que está cheio de buracos e entrando água. A começar pelo fato de que, quanto mais ele se afasta de seus antigos aliados e mais se aproxima da oposição representada pelo PSDB e pelo DEM, mais ele vai desconstruindo a imagem que firmou para o resto Brasil, como governador de Pernambuco, até virem as eleições de 2012.

O segundo “buraco” é que, ao tentar valorizar seu próprio passe, Campos acabou valorizando o passe dos outros, pois as legendas menores da base governista fingem encenar a possibilidade de vir apoiá-lo apenas para, estes sim, conquistar alguma importância na hora de decidir quem vão em 2014. Para complicar, nesse cenário, o próprio Campos coloca os ministros do PSB em processo de fritura.

Tem também o PSDB, que não aceitará ser rebaixado à terceira força política de país, não abre mão da candidatura própria (ainda que não seja Aécio Neves), e não quer concorrente arrastando as fichas da oposição. Não por acaso, Aécio Neves já ligou o fogo alto da fritura de Campos, ao chamá-lo de “fisiológico”, por manter cargos no governo Dilma e se apresentar como candidato de oposição.

Outro problema da candidatura do governador pernambucano é a tentativa de faturar em cima do discurso pseudo-moralista, de combate à corrupção etc. Campos tem um escândalo acerca de precatórios em sua biografia. Mesmo tendo escapado de responsabilidade criminal perante o Judiciário de seu estado, o episódio trouxe prejuízos aos cofres públicos e maculou sua gestão como Secretário da Fazenda do avô governador, Miguel Arraes.

Some-se a isso as discordâncias de peso dentro do próprio PSB. Ciro Gomes e o governador Cid Gomes (Ceará) já declararam que irão apoiar Dilma. Ciro, inclusive, atiçou ainda mais o fogo da fritura ao dizer que Campos não  têm propostas concretas para o Brasil. Os governadores do PSB, sobretudo em estados onde se elegeram com apoio do PT, idem. Óbvio que para eles seria melhor reeditar a aliança de 2010. Neste momento pode ser interessante ficar assistindo as investidas do correligionário, mas é difícil imaginar que se sintam confortáveis em ir para 2014 como oposição à Lula e Dilma.

Por fim, enquanto faltam grandes lideranças nacionais determinadas a apoiar Campos, Dilma conta com o apoio do principal cabo eleitoral do Brasil, o ex-presidente Lula, e do PT, unido em torno da reeleição.

Como se vê, o teste de lançamento da candidatura de Campos, fez barulho entre os barões da mídia, mas não trouxe ainda nem apoios políticos esperados, nem popular. Blefe ou não, Campos deve continuar testando a viabilidade de sua candidatura por mais algum tempo, mas muito provavelmente terá que voltar à prancheta.

 

Seria um nome ideal para os barões da mídia e as oligarquias econômicas arcaicas se casarem, como fizeram com FHC em 1994.