Lula dá tom da campanha e promete não voltar em 2014

Ao defender a pré-candidatura de Dilma Rousseff, o presidente afirma que estará 'espiritualmente ao lado dela' durante a corrida eleitoral, mas que não vai interferir em um eventual mandato da ministra

Em 15 dias, Lula promete anunciar plano de banda larga (Foto: Ricardo Stuckert/Pr)

A ministra-chefe da Casa Civil Dilma Rousseff é a pré-candidata à Presidência da República escolhida por Luiz Inácio Lula da Silva por ser “a pessoa mais preparada” para a função. Em entrevista concedida a O Estado de S.Paulo, Lula negou que tenha a intenção de voltar a disputar o cargo em 2014 e considera que sua indicada tem capacidade para dois mandatos com autonomia e sem precisar de sua interferência.

O início da escolha ocorreu na definição de Dilma para o Ministério da Casa Civil, o que tornou a indicação “quase uma coisa natural”. “A dedicação, a capacidade de trabalho e de aprender com facilidade as coisas foram me convencendo que estava nascendo ali mais do que uma simples tecnocrata”, elogia. “Estava nascendo ali uma pessoa com potencial político extraordinário, até porque a vida dela foi uma vida política importante”, bajula.

Lula criticou, sem citar nomes, análises de figuras como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que afirmou que, se eleita, a ministra seria um fantoche. “Somente quem não conhece o comportamento das mulheres e somente quem não conhece a Dilma pode falar uma heresia dessas”, esquivou-se Lula. Ele sustenta que Dilma não será nem aceitaria ser “vaca de presépio”.

Sobre a campanha eleitoral, disse que vai permanecer “espiritualmente” ao lado de Dilma, numa forma de ironizar o risco de ela ficar “só” na corrida eleitoral. Lula sugere que a ministra será apresentada como uma pessoa preparada para governar por conhecer a máquina e ter uma história política de lutas e determinação. E ainda ensaiou alguns ataques à oposição.

O presidente não explicou qual será o tom de sua conversa com o deputado federal Ciro Gomes (PSB), que insiste em disputar a Presidência enquanto Lula e o PT preferiam uma eleição mais plebiscitária, em que apenas tivessem chances de vitória o nome governista e um de oposição. Ciro acredita que é importante ter outra candidatura de situação como forma de assegurar um segundo turno.

“Não farei nada que possa prejudicar o companheiro Ciro Gomes. Eu pretendo conversar com ele, ver se chegamos à conclusão sobre o melhor caminho”, disse. Nenhuma informação foi citada sobre o teor da conversa e as intenções de Lula, apenas que, se ele dissesse, a “conversa ficará prejudicada” e que quer mais é discutir.

Em defesa de Sarney

Questionado sobre os presidentes da Câmara e do Senado, Lula fez defesas de Michel Temer (PMDB-SP) e de José Sarney (PMDB-AP). Classificou o primeiro como “companheiro inestimável” desde que “resolveu ficar na base”, mas que a escolha do vice depende do PMDB, de Dilma e do PT.

Em relação a Sarney, a defesa foi mais contundente. Afirma que a postura do senador foi “muito digna” e que “das acusações que vocês (o jornal) fizeram contra o Sarney, nenhuma se sustenta juridicamente”. Ele ainda acusou o DEM de ter participação na formulação dos atos secretos do Senado, motivo por que a invetigação foi abandonada pela oposição.

Banda larga e estatal

Lula prometeu, em 15 dias, apresentar o programa nacional de banda larga, para universalizar o acesso a internet em alta velocidade. Defendeu que a Telebras seja reativada como uma “empresa enxuta” para garantir ao Estado poder de barganha com agentes privados.

Na mesma linha, anunciou a intenção de reativar a Eletrobras para criar uma “megaempresa de energia” no Brasil. “Quero empresa que seja multinacional, que tenha capacidade de assumir empréstimos lá fora, de fazer obras lá fora e fazer aqui dentro. Se a gente não tiver uma empresa que tenha cacife de dizer ‘se vocês não forem, eu vou’, a gente fica refém das manipulações das poucas empresas que querem disputar o mercado”, analisa.

De braçada

Em diferentes momentos, Lula recorre ao humor para se livrar de perguntas mais duras. Em relação ao questionamento sobre o papel do Estado na economia defendido pelo governo, ele apela ao elogio aos repórteres: “Vou fazer uma brincadeira: o único Estado forte que eu quero é o Estadão”.

Para explicar por que afirma que não faz campanha antecipada por Dilma, saiu-se com: “Eu dizer que vou fazer meu sucessor é o mínimo que espero de mim”. Isso porque “a grande obra de um governo é ele fazer seu sucessor”.

Ao alfinetar José Serra (PSDB), governador de São Paulo e pré-candidato à Presidência, e Gilberto Kassab (DEM) por causa das enchentes na capital paulista, a opção foi evitar ataques diretos e culpabilizar os governantes, colocando-se como vítima do excesso de chuvas. “No meu apartamento, em São Bernardo, está caindo mais água dentro do que fora. Choveu tanto que vazou. Há dias o meu filho me ligou, às duas horas da manhã, e disse: ‘Pai, estou com dois baldes de água cheios'”, relata.