‘Gastar R$ 1 bilhão no Maracanã é um abuso’, diz candidato do PSDB no Rio

O candidato tucano à prefeitura do Rio de Janeiro, Otavio Leite, tem a missão de reerguer o partido entre os cariocas (Diogo Xavier/Ag. Câmara) Rio de Janeiro – Um dos […]

O candidato tucano à prefeitura do Rio de Janeiro, Otavio Leite, tem a missão de reerguer o partido entre os cariocas (Diogo Xavier/Ag. Câmara)

Rio de Janeiro – Um dos protagonistas políticos nas regiões Sul e Sudeste do Brasil, o PSDB há alguns anos não tem a mesma força eleitoral no Rio de Janeiro, estado que chegou a governar na década de 1990. Após submergir por um longo período na aliança com o ex-prefeito Cesar Maia (DEM), o partido agora busca reconquistar espaço entre os cariocas. Para isso, lançou candidato próprio à Prefeitura do Rio pela primeira vez em doze anos. A missão foi confiada ao deputado federal e ex-vice-prefeito Otávio Leite, considerado internamente um dos melhores quadros do partido.

Em entrevista à Rede Brasil Atual, Otávio Leite criticou a política municipal de atendimento às pessoas portadoras de deficiência e qualificou como “ridículo” o investimento da Prefeitura no combate ao crack e à dependência química. Disse considerar “um abuso, um excesso’, o dinheiro empenhado na reforma do Maracanã e garantiu não temer ser abandonado pelos governos do PMDB (estadual) e do PT (federal), se ganhar as eleições: “Não terei qualquer dificuldade de diálogo com o governador ou com a presidente Dilma Rousseff”, diz.

 

Leia íntegra da entrevista:

Por que o sr. quer ser prefeito do Rio? Se vencer as eleições, qual marca imagina que sua gestão à frente da Prefeitura deixará na cidade?

Quero ser prefeito do Rio porque tenho ideais, me sinto maduro, seguro e experimentado para enfrentar esse desafio e porque sonho em chegarmos daqui a quatro anos com a população reconhecendo que foram quatro anos de avanços e que a cidade se tornou mais humana.

Durante a campanha, o senhor tem criticado muito as políticas municipais de atendimento às pessoas com deficiência e de combate à disseminação do crack. O que pretende mudar nessas políticas? Se eleito, como utilizará os R$ 400 milhões repassados pelo Ministério da Justiça para combater o crack no Rio?

Em relação às pessoas com deficiência, a política municipal hoje é quase inexistente, ela é muito fraca. Vale lembrar que o prefeito, logo no início do governo, reduziu as verbas destinadas às instituições que atendem pessoas com deficiência. Na Prefeitura, nós vamos dobrar esses repasses para as instituições, permitindo ampliar o atendimento e a qualidade do atendimento. Vamos também implantar um grande programa de adaptação de calçadas e praças, inclusive com brinquedos para crianças com deficiência. Vamos oferecer todos os modernos recursos em tecnologias assistivas para alunos e pessoas em reabilitação. Tudo isso vai, no somatório, significar uma verdadeira revolução em prol das pessoas com deficiência no Rio de Janeiro.

Em relação ao crack, esses R$ 400 milhões ainda não saíram do papel. O Rio de Janeiro vem gastando R$ 300 mil ao mês no combate à disseminação do crack, o que é ridículo diante das necessidades. Para o combate ao crack, nós vamos colocar mais recursos, ampliar as estruturas públicas da Prefeitura e apoiar as iniciativas, sobretudo dos grupos religiosos que trabalham na recuperação de dependentes químicos.

As autoridades no Rio de Janeiro vivem hoje um clima de euforia por conta da realização de grandes eventos internacionais na cidade, com destaque para as Olimpíadas de 2016. O senhor concorda com o gerenciamento das obras e transformações que estão ocorrendo na cidade por conta desses eventos? O que faria de diferente?

Para começar, eu não teria gasto R$ 1 bilhão no Maracanã, o que é um abuso, um excesso. Também não irei demolir o elevado da Perimetral no bojo das obras como um todo. Farei as instalações dos equipamentos necessários com um acompanhamento muito rigoroso. Vale lembrar que as Olimpíadas de Londres vão custar R$ 29 bilhões e a do Brasil, a quatro anos de sua realização, já está orçada na casa dos R$ 24 bilhões. A julgar pela retrospectiva do que vêm sendo os gastos públicos, é muito preocupante essa projeção de gastos. Na Prefeitura, vamos estabelecer um rigoroso controle na aplicação dessas verbas.

Até agora, segundo as pesquisas, seu nome ainda não ultrapassou os 5% da preferência do eleitorado carioca. Como reverter esse quadro? Qual sua estratégia para essa reta final de campanha?

Eu prosseguirei sendo um candidato propositivo, o que tem sido a minha marca. Acredito na força das boas ideias. Já estamos intensificando a campanha de rua e acredito piamente em uma reflexão mais amadurecida por parte do eleitorado, pois, segundo as pesquisas, mais da metade da população manifesta que não está interessada nas eleições. A partir de agora é que realmente aquece a partida.

Na propaganda eleitoral, o candidato Eduardo Paes (PMDB) bate na tecla da parceria hoje existente entre a administração municipal e os governos estadual e federal. Se o senhor vencer as eleições, teme não receber dos governos do PMDB (estadual) e do PT (federal) a mesma atenção que é dada ao atual prefeito?

Não, em hipótese nenhuma. As relações entre os chefes dos governos têm que se dar em prol do interesse público. Aliás, dizer que os problemas só podem ser resolvidos se houver essa parceria é uma revelação de autoritarismo, pois, em uma república democrática, a convivência respeitosa entre um prefeito e um governador de partidos diferentes é um elemento que tem que existir. Não terei qualquer dificuldade de diálogo com o governador ou com a presidente Dilma Rousseff.

O PSDB chegou a governar o Rio de Janeiro com Marcello Alencar (1995-1998), mas depois minguou em todo o Estado e é a primeira vez em doze anos que tem candidato próprio à Prefeitura do Rio. Existe espaço para o partido voltar a crescer na cidade? E no interior?

Águas passadas não movem moinhos. Nós estamos olhando pra frente e iniciando um novo momento para o futuro do partido.

O sr. foi vice-prefeito de Cesar Maia, resultado de uma coligação nacional com o DEM que foi articulada pela direção majoritariamente paulista do PSDB. Valeu a pena o partido ter ficado por tantos anos como linha subalterna ao DEM no Rio? Se eleito, o senhor chamará o DEM para compor seu secretariado?

O partido errou ao não apresentar candidato próprio à Prefeitura do Rio de Janeiro nas eleições passadas. O nosso sistema foi feito para que no primeiro turno as forças políticas mostrem as suas propostas. Mas, o que passou, passou, e agora é bola pra frente. Para compor meu secretariado, pretendo não só chamar o DEM, mas chamar todas as outras forças para trabalharem conosco.

Muito se fala em um reordenamento político-partidário que estaria em gestação no Brasil. O senhor acredita que isso possa acontecer, em futuro próximo, no campo político de centro-direita ao qual o PSDB pertence?

Não tenho ideia, não pensei sobre isso. Só acho que os partidos no Brasil precisam encontrar caminhos mais ideológicos. Hoje, vivemos o ‘Império do Pragmatismo’, o que é extremamente perverso para a prática política brasileira.