Obama manifesta ‘apreço’ por lugar do Brasil no Conselho de Segurança da ONU

Dilma enfatiza histórico de paz brasileiro, cobra redução de barreiras alfandegárias e ressalta clima de otimismo em país que recebeu de Lula

(Foto: Roberto Stuckert Filho/PR)

São Paulo – O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, acenou de maneira positiva, embora pouco precisa, à possibilidade de reforma do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU).

Em discurso proferido neste sábado (19) em Brasília, Obama não foi tão preciso quanto a presidenta Dilma Rousseff na hora de falar sobre mudanças no órgão máximo de tomada mundial de decisões. Ele considera que o país deve participar das discussões de reestruturação da ONU, mas não afirmou categoricamente apoiar a demanda brasileira por um assento permanente no Conselho de Segurança.

Obama considera que o Brasil deve participar das discussões sobre a reforma no Conselho de Segurança. “Os Estados Unidos continuarão a se esforçar para ter certeza de que a realidade do século XXI irá se refletir nas instituições multilaterais”, afirmou durante pronunciamento dos dois chefes de Estado após um encontro a portas fechadas que durou toda a manhã. 

No comunicado conjunto divulgado pelo Itamaraty, Obama “manifestou seu apreço à aspiração do Brasil de tornar-se membro permanente do Conselho de Segurança e reconheceu as responsabilidades globais assumidas pelo Brasil.”

Dilma Rousseff, que falou antes do presidente dos Estados Unidos, reafirmou que o país anseia ter um assento permanente. “Não nos move o interesse menor da ocupação burocrática de espaços de representação. O que nos mobiliza é a certeza de que um mundo multilateral produzirá benefícios para a paz e a harmonia entre os povos”, afirmou a presidenta, para em seguida acrescentar: “O Brasil tem compromisso com a paz, com a democracia, com o consenso. Esse compromisso não é algo conjuntural, mas é algo integrante dos nossos valores.”

O assento permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas é um anseio antigo da diplomacia brasileira, que considera que é preciso abrir o órgão à participação de um mundo com mais vozes. Atualmente, EUA, China, França, Grã Bretanha e Rússia têm direito a um lugar permanente, com capacidade para veto, e dividem o espaço com dez integrantes com direito a um espaço rotativo, sem possibilidade de veto.

Líbia e Lula

No campo das relações internacionais, Obama citou ainda o caso da Líbia e, embora tenha evitado censurar a posição brasileira em torno do tema, a simples inclusão no discurso pode ser lida como um sinal de desapontamento. Esta semana, o Conselho de Segurança da ONU aprovou novas sanções contra o país comandado pelo ditador Muhamar Khadafi, mas o Brasil preferiu se abster por temer que ações militares levem à morte de civis. “Estamos decididos a seguir adiante, estamos prontos para agir de forma bastante urgente”, afirmou Obama, ao mesmo momento em que seu país e a União Europeia discutiam os termos de uma ação conjunta.

Dilma, por sua vez, cobrou que os Estados Unidos tenham atenção às medidas adotadas para desvalorizar o dólar, o que afeta todo o equilíbrio comercial internacional. A presidenta lembrou que os rumos econômicos da Casa Branca acabam provocando mais protecionismo, prejudicando a balança comercial brasileira. Ela citou especificamente os casos do álcool combustível, da carne bovina e do algodão, produtos nos quais o Brasil gostaria de ver a redução das barreiras alfandegárias impostas por Washington.

Embora os temas econômicos tenham ocupado a maior parte do discurso, Dilma fez questão de abrir sua fala pelo legado do presidente Lula e pelo ineditismo do encontro chefes de Estado que representam novidades nas vidas políticas de seus países – uma mulher e um negro. “Sucedo a um homem do povo, meu querido companheiro Luiz Inácio Lula da Silva”, enfatizou. Ela lembrou ainda que Lula, que preferiu não ir ao encontro deste sábado, foi o responsável por uma extraordinária mudança no campo econômico brasileiro. “Todo esse esforço criou milhões de empregos e dinamizou regiões inteiras antes excluídas do nosso crescimento econômico.”

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