Conflitos no campo motivados pela água cresceram 32%, diz CPT

Pesquisa da Comissão Pastoral da Terra aponta que a região Nordeste concentra o maior número de conflitos pela questão da terra

São Paulo – Os conflitos motivados pela questão da água no Brasil têm aumentado rapidamente, conectado aos focos de disputa pela terra. A conclusão faz parte do levantamento divulgado nesta quarta-feira (01) pela Comissão Pastoral da Terra (CPT) sobre os conflitos que ocorreram no campo no primeiro semestre deste ano, em comparação com o mesmo período de 2009.

De janeiro a julho deste ano, os conflitos no campo motivados pela água cresceram 32% em relação ao mesmo período do ano passado. Dos 29 conflitos registrados em 2010, 11 estiveram diretamente ligados à construção de barragens.

 

Para o coordenador da CPT, Padre Dirceu Fumagalli, há no campo uma disputa entre os detentores do ‘capital’ e as comunidades que tradicionalmente ocupavam o leito dos rios. Tais disputas tiveram relação direta com o modelo de geração de energia adotado no Brasil, focado em usinas hidrelétricas. Especialmente neste ano, quando as discussões foram fortalecidas pela construção da usina de Belo Monte, no Pará.

“A presença de qualquer riacho já é motivo de estancamento visando à geração de energia, gerando muitos conflitos junto às comunidades. Um cenário acentuado agora, ainda mais, em torno de Belo Monte, provando o descompasso em relação aos planos governamentais e a expectativa das comunidades que historicamente ocuparam esses territórios”.

No Sudeste, o crescimento do número de conflitos foi de 175%, passando de 4 para 11. No Sul e Centro-Oeste, os conflitos passaram de 2 para 3 – em cada região. Apenas na região Norte houve uma queda no número de conflitos, de 7 para 3. Entretanto, neste estado, o número de famílias envolvidas cresceu 395%, de 2.250 em 2009 para 11.150 em 2010.

O número total de famílias envolvidas nos conflitos pela água, no primeiro semestre deste ano, foi cerca de 25.200.

Conflitos por terra

A região Nordeste registrou 54% dos conflitos por terra em todo o Brasil. Diferentemente das demais regiões, o número desses conflitos no Nordeste aumentou de 158, em 2009, para 194, em 2010. Já o número de ocupações e de acampamentos cairam respectivamente de 57 para 65 e de 6 para 3.

Para Fumagalli, a explicação é que a questão agrária no país ainda gera graves problemas. “A concentração dos conflitos na região Nordeste é uma prova de que não foi resolvido o problema que há décadas tem sido denunciado: a necessidade de uma reforma agrária. Sem ela, mantém-se acentuada a questão da violência”, alertou o coordenador.

Nas outras regiões do país, os conflitos por terra, ocupações e acampamentos sofreram redução no primeiro semestre de 2010 em relação ao mesmo período de 2009. São 365 ocorrências de conflitos em 2010, envolvendo 33.413 famílias, contra 547 ocorrências em 2009, envolvendo 47.739 famílias. Em contrapartida, os dados mostram que o número médio de famílias envolvidas em conflitos por terra, em 2010, aumentou, chegando a 94, ao passo que em 2009 a média era de 87 famílias envolvidas.