Meteoro visto no Rio e no Espírito Santo alimenta discussão sobre ‘apocalipse’

Apontada como 'rara' por alguns especialistas, presença de corpos celestes nos céus da Terra é considerada banal por astrônomos

Rio de Janeiro – A provável passagem de um meteoro pelos céus de Campos, município do Norte Fluminense, na manhã de hoje (20) serviu como combustível para alimentar uma curiosa discussão. De um lado, aqueles que, desde a explosão de um meteoro sobre a Rússia na semana passada, enxergam na aproximação e colisão de corpos celestes sinais apocalípticos para a Terra. De outro, os que pretendem desmistificar a questão e afirmam que esses fenômenos astronômicos são corriqueiros.

A polêmica cresceu depois que o físico Marcelo de Oliveira, do Clube de Astronomia de Campos, afirmou a jornalistas que o meteoro, que também pôde ser visto em alguns municípios do Espírito Santo, é um fenômeno “muito raro” e que muito pouco se sabe sobre ele: “Pode ser um grande meteoro ou mais de um com pequenas dimensões. Vamos começar a investigar e ouvir relatos de pessoas para identificar o local exato. Isso é algo muito raro de acontecer. Sabemos que alguma coisa de incomum está acontecendo, mas ainda não sabemos o que é”, disse.

Em comentário postado no blog do jornalista Luís Nassif, o professor Helio Rocha-Pinto, do Observatório de Astronomia do Valongo (UFRJ) e membro da International Astronomical Union (IAU), criticou a postura de Oliveira: “Seu comentário sobre ‘sabemos que algo muito incomum está acontecendo’ é estarrecedor vindo da boca de alguém com formação científica e que divulga astronomia para leigos. Seria importante que ele dissesse o que de incomum ele pensa estar ocorrendo, porque frases soltas e descontextualizadas deste tipo só alimentam ainda mais os medos irracionais de uma sociedade educada por filmes de catástrofe espacial”, escreveu.

Ao contrário do que afirma o físico do Clube de Astronomia de Campos, sustenta Rocha-Pinto, “meteoros não são raros, muito menos a ocorrência de vários meteoros em pouco tempo”. Segundo o observador da UFRJ, “entre 37 e 78 toneladas de material meteorítico atinge a Terra a cada ano”.

A posição de Rocha-Pinto é corroborada por José Vilas Boas, pesquisador da Divisão de Astrofísica do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) em entrevista ao site G1: “Todos os dias, milhares de meteoros podem ser vistos caindo no planeta, mas a maioria não pode ser vista a olho nu devido ao pouco brilho que produzem. Ao longo do ano, a Terra passa por várias regiões no Sistema Solar, que podem concentrar grandes quantidades de partículas, conhecidas como ‘meteoroides’. Durantes essas passagens, podem ocorrer chuvas de meteoros, vistas em alguns lugares do planeta. No momento, a Terra está cruzando duas regiões que podem gerar mais meteoros do que o normal e mais brilhantes”, diz.

À espera do fim

Em sites da internet que discutem temas apocalípticos, como o fimdostempos.net e blog Revelação Final, entre outros, o tema foi objeto de comentários de leitores temerosos com os recentes episódios envolvendo meteoros: “A palavra de Deus nos diz que haveria sinais (do fim dos tempos) nos céus e na terra e, pra quem não acredita nisto, a própria Palavra de Deus (Bíblia) diz que esses sinais são para os que creem (não para os incrédulos)”, escreveu a leitora Elizabeth Lordello.

Já o site verdademundial.org cita afirmação do cientista e escritor americano Bill McGuire sobre o meteorito que explodiu sobre a Rússia para pedir que todos fiquem alertas à possibilidade de apocalipse: “Se o meteorito tivesse explodido na mesma latitude quatro horas mais tarde, teria feito desaparecer da face da Terra a cidade de São Petersburgo”, diz.