O precoce envelhecimento da oposição

A oposição ao governo federal, incluindo a velha mídia, tem se focado na retórica “udenista”, aquela prática de fazer campanhas apenas denuncistas, para encobrir a falta de propostas populares capazes […]

A oposição ao governo federal, incluindo a velha mídia, tem se focado na retórica “udenista”, aquela prática de fazer campanhas apenas denuncistas, para encobrir a falta de propostas populares capazes de sensibilizar o eleitor. O problema é que esse discurso tem encontrado eco apenas em um nicho do eleitorado, conservador, que já é eleitor da oposição, e que em sua grande maioria se informa pelos veículos desta chamada grande mídia.

Porém, os mais jovens, principalmente, cada vez mais preferem se informar na internet, onde noticiosos e blogues proporcionam maior pluralidade de opiniões.

Peguemos o caso do julgamento do chamado núcleo político no “mensalão”. Os mais conservadores se saciam com as condenações políticas. Mas como os jovens, no auge de seu idealismo, estarão vendo pessoas que tiveram suas vidas vasculhadas, inclusive bancária e fiscal, serem condenadas apenas por sua atividade política, sem terem desviado nenhum centavo para si? 

Haverá muitos que enxergarão hoje situação semelhante aos presos políticos da época da ditadura. Alguns até transigiram as leis arbitrárias da época, mas por ideais libertários. Outros eram presos apenas por estar em um grupo de pessoas num lugar público.

Da mesma forma, hoje, infringiram as leis quem fez caixa 2, mas há aqueles que não o fizeram para enriquecimento pessoal. Outros foram condenados apenas por ‘participarem de reuniões’, sem que infringissem nenhuma lei.

Um ministro do STF, mais exaltado ao ler sua sentença, chegou a chamar de “subversivos” as pessoas a quem estava condenando no chamado “mensalão”. Um ato falho, talvez, pois a palavra “subversivo” era muito usada 40 anos atrás pelos repressores da ditadura, para desqualificar qualquer um que protestasse. 

É cedo para conclusões – e o próprio julgamento está longe de encerrar as contestações que virão –, mas há um efeito colateral inverso ao que a velha mídia quis produzir.

Num mundo onde o noticiário político é propositalmente despolitizado e procura reduzir o cidadão a consumidor ávido por ganhar dinheiro, muitos jovens terão mais curiosidade em saber os motivos que levam alguém à condenação sem desviar um único centavo para sua conta, em vez de ouvir os sermões dos colunistas de jornais e TVs. Paradoxalmente, a oposição envelheceu e, para muita gente, o PT pode ter rejuvenescido, mesmo na adversidade.