Professor acusa ‘O Globo’ de ‘inventar’ informação em matéria sobre MST

Clifford Andrew Welch, da Unifesp, aponta que diplomata dos Estados Unidos faz leitura equivocada sobre o movimento social com base simplesmente em artigos jornalísticos e declarações

são Paulo – O professor Clifford Andrew Welch, do curso de história da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), desmente reportagem de O Globo produzida a partir de telegramas confidenciais da embaixada dos Estados Unidos no país vazados pelo Wikileaks. O texto sustenta que o MST tem espiões infiltrados no Incra para definir ocupações de terra.

A reportagem publicada no dia 19 deste mês se vale de documentos do Wikileaks que citam o professor como fonte de diplomatas dos Estados Unidos a respeito do movimento social. O então integrante do Núcleo de Estudos, Pesquisas e Projetos em Reforma Agrária da Unesp confirma que teve, mesmo contrariado, um encontro em 2009 com o vice-cônsul Vice Consul Benjamin LeRoy, mas nega que tenha dado qualquer declaração denegrindo a imagem do MST.

O telegrama apresentado por O Globo tem a seguinte declaração: “Welch disse ao assessor econômico que o Incra não torna essa informação publicamente disponível e que o MST só poderia acessá-la por meio de informantes dentro do Incra”. Essa teria sido a declaração de Welch sobre a maneira como o MST define sua agenda de ocupações, sempre tendo em vista as propriedades que serão destinadas a assentamentos.

A partir disso, o diário carioca deduziu que o MST tem “espiões” dentro do Incra. Welch nega duplamente as acusações. Em primeiro lugar, o pesquisador lembra que não há, nos telegramas, o uso dessa expressão. Além disso, afirma que os relatos diplomáticos são fruto de uma interpretação completamente equivocada de suas declarações.

“O jeito como o cônsul interpretou o relato de Benjamin de coisas que não falei sobre as relações entre o MST e o Incra reflete mais do macartismo que a realidade do Brasil. Macartismo é a ideologia do ‘medo vermelho’ que causou alarme nos EUA nos meados do século passado quando foi alegado que espiões russos infiltrados no setor público estavam minando a segurança nacional do país”, relata em artigo escrito esta semana.

Welch afirma ter ficado impressionado com a maneira como os diplomatas dos Estados Unidos fazem deduções equivocadas tendo em conta simplesmente declarações ou artigos jornalísticos. “Faz sentido confiar em um investigador que nem sabe onde estava ou com quem estava falando? O despacho que relata a investigação de Benjamin usa a sigla Uneste no lugar da sigla Unesp e dá como a minha afiliação institucional a Universidade de Michigan, ambas afirmações equivocadas”, indaga o professor.