Perdida no discurso, base aliada paulista faz de tudo para blindar Bruno Covas

Desacostumados com os holofotes, deputados estaduais do PSDB veem a “integridade” tucana abalada após denúncias de vendas de emendas

São Paulo – Se o PSDB está há 17 anos acostumado a “nadar de braçadas” no estado de São Paulo, a polêmica sobre o esquema da venda de emendas pelos deputados da Assembleia Legislativa parece estremecer o partido. Desabituados com o assédio de uma mídia fiscalizadora, os integrantes da bancada tucana se contradizem no discurso, e tentam de todas as formas impedir a exposição do “pupilo” de Geraldo Alckmin, deputado Bruno Covas.

Com a exposição de Covas, que até então era um forte pré-candidato tucano para as eleições municipais do ano que vem, o PSDB busca de todas as formas blindar o secretário dos holofotes, expondo a falta de unidade no discurso. Primeiro, Covas afirmou por meio de uma carta que a “caixinha” oferecida pelo tal prefeito não passava de um fato hipotético, incorporado ao seu discurso em palestras e entrevistas. Ouça abaixo o áudio.

Depois, o presidente do Conselho e colega de partido de Covas, Hélio Nishimoto, não enviou o convite aprovado pelos próprios membros do colegiado para que o secretário fosse se explicar na Casa, alegando que o líder do PSDB, deputado Orlando Morando (PSDB), que não faz parte do Conselho, havia solicitado entregar o convite pessoalmente ao secretário. Dois dias depois, nesta quinta-feira (13), ele assegurou que o convite já havia sido encaminhado, informação negada pela assessoria de Covas. Uma confusão difícil para explicar.

Mesmo afirmando que defende a investigação dos fatos e a transparência no processo de investigação, Nishimoto não assina a CPI que objetiva apurar mais a fundo o caso, e mantém sua postura de votar contra todos os requerimentos que pretendem convidar ex-membros do governo a se explicarem no Conselho, sob a alegação de que “o principal ponto para a investigação são as declarações de Roque Barbiere”.

Vale lembrar que o Conselho de Ética não pode convocar nenhuma pessoa a depor, apenas enviar convites, permitindo ainda a possibilidade de o acusado responder via documento escrito. Os deputados da oposição lutam para conseguir mais 3 assinaturas de deputados para se instalar a CPI, que teria seguridade jurídica para convocar os envolvidos.

Entenda o caso

O caso começou com uma entrevista do deputado estadual Roque Barbiere (PTB), na qual, segundo ele, cerca de 25% a 30% dos parlamentares da Casa recebiam uma propina em troca da indicação de uma emenda. O então colega de Assembleia e atual secretário do Meio Ambiente do estado, Bruno Covas, escorregou durante uma outra entrevista e “entregou” que certa vez um prefeito de determinada cidade havia lhe oferecido 10% de uma verba de R$ 50 mil indicada pelo então deputado.

Depois das denúncias, os focos se voltaram para a Assembleia, mais especificamente para o Conselho de Ética criado na Casa para apurar as denúncias. Com discussões calorosas e acusações veementes, o saldo concreto do Conselho é bastante pequeno, quase nulo, nessas duas semanas de trabalhos.

Se as investigações, de fato, caminham a passos curtos entre os parlamentares, a mídia tratou de dar atenção ao caso e trazer novos capítulos ao episódio, como a turbinada do governo nas emendas de Covas, que conseguiu em 2010, ano eleitoral, um montante quase cinco vezes maior que o permitido.