História

Morre Avelino Ganzer, líder rural e primeiro vice-presidente da CUT

Depois de sair do Sul rumo à Transamazônica, dirigente liderou sindicato dos rurais de Santarém (PA) e participou da fundação da central

Reprodução/Montagem RBA
Reprodução/Montagem RBA

São Paulo – Em 1971, Avelino Ganzer já tinha feito curso de contabilidade e de datilografia, e trabalhava em Porto Alegre, vindo de Iraí, no interior do Rio Grande do Sul (nasceu nessa cidade em 6 de abril de 1948). Foi quando a família migrou para a região Norte, atraída pela propaganda de colonização feita pelo governo. “Saímos do Rio Grande do Sul para a Transamazônica, no Pará, com o sonho de encontrarmos um chão para trabalhar e daí sustentar e criar a família”, afirmou em depoimento ao Instituto Paulo Fonteles. Ele tornou-se líder rural em Santarém (PA) e, mais tarde, foi o primeiro vice-presidente da CUT. Avelino Ganzer morreu nesta quarta-feira (13), aos 75 anos.

Segundo Ricardo, seu filho, há sete meses ele lutava contra um câncer raro e agressivo na medula. Estava internado há um mês, e na semana passada, na UTI, sofreu uma parada cardíaca. “Meu pai sempre dedicou a vida às causas sociais e aos trabalhadores, fez questão de lembrar sempre que a luta de classes é algo que as pessoas precisam se conscientizar, precisamos ser mais críticos ao sistema e ser mais proativos”, declarou ao jornal paraense O Liberal.

Origens da CUT

Assim, também na semana passada, antigos e atuais dirigentes da central se reuniram para o lançamento de livro a respeito de pessoas que estiveram presentes nas origens da CUT. Foi exibido um depoimento de Ganzer, já internado, que emocionou o primeiro presidente da entidade, Jair Meneguelli. “Que bom que vocês não desistiram, mesmo na crise, para construir essa memória”, disse Ganzer, acrescentando que é preciso “repensar” o programa de formação. “O mundo mudou.” Para ele, os trabalhadores não conhecem uns aos outros.

No mesmo depoimento ao instituto, (leia aqui outro depoimento, à FGV), Ganzer lembrou da chegada a Itaituba, no Pará. Ali, a chefia local do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) “colocou várias famílias num mesmo alojamento coberto com a folha de babaçu e chão batido que ficava localizado às margens direita do rio Tapajós”.

Alguns dias depois, todos foram colocados em carrocerias de caminhão e rodaram mais de 200 quilômetros. “Chegando no local, os técnicos saíam de seus carros confortáveis e diziam: é aqui que vocês serão fazendeiros etc., lembrando que não tinha casa, comida e nem água para consumo, era mata virgem e nós com toda família nos sujeitávamos àquela realidade, pois não tínhamos nenhuma consciência, quem não sabe é como quem não vê, acreditando num futuro melhor.”

Sua família foi assentada em Santarém, a 240 quilômetros da sede. “Lembro que técnicos (na verdade a maioria eram policiais), vestidos com roupas do Incra, passavam a tirar fotos de frente, de lado de perfil de cada um de nós acima de 18 anos.” E foram orientados a tomar cuidado porque o Exército estava combatendo “assaltantes” na região – na verdade, era a Guerrilha do Araguaia, cujos integrantes foram dizimados pela ditadura.

Organização dos trabalhadores rurais

Ganzer foi um dos indicados deste ano ao Prêmio CUT. A central lembrou que o dirigente construiu, nos anos 1990, o Departamento Nacional dos Trabalhadores Rurais (DNTR) da CUT. “Junto com as pastorais da igreja católica, atuou no Pará na organização dos trabalhadores rurais, assumindo a direção do Sindicato de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais (STTR) de Santarém.” A entidade estava presente na primeira Conferência Nacional da Classe Trabalhadora (Conclat), em 1981, em Praia Grande (SP). Nesse encontro, foi criada a comissão pró-CUT. A central seria criada dois anos depois, em agosto de 1983, em São Bernardo do Campo (SP).

O PT divulgou nota em que manifesta “profundo pesar pelo falecimento do companheiro Avelino Ganzer, um incansável defensor e lutador pela reforma agrária no Brasil”. O partido lembra ainda que o dirigente foi “organizador histórico do Grito da Terra Brasil”.