'Situação inusitada'

Metroviários de São Paulo decidem suspender greve e ir à Justiça contra corte de direitos

Sindicato avaliou que paralisação poderia prejudicar demais a população. Mudança na data de pagamento dos salários, suspensão de férias e de horas extras, entre outras medidas, mobilizam a categoria

metroviários SP

Sem novas contratações e sem mais receber por horas extras, metroviários temem caos no atendimento à população

São Paulo – Os trabalhadores da Companhia do Metropolitano de São Paulo (Metrô) decidiram, em assembleia na noite de ontem (29), suspender a greve que estava prevista para hoje (1°). Eles optaram por buscar apoio judicial contra uma série de medidas anunciadas pela empresa sob alegação de conter gastos que estariam prejudicando a categoria. Entre estas estão a mudança na data de pagamento dos salários, a suspensão de férias e de horas extras e o adiamento do pagamento da Participação nos Resultados (PR).

A categoria também considerou que uma greve nesta quarta-feira penalizaria a população. “Em maio iniciamos campanha salarial. Avaliamos que uma greve agora, sendo que há possibilidade de termos de pressionar com outra logo depois, prejudicaria muito a população”, explicou o secretário-geral do Sindicato dos Metroviários, Alex Fernandes.

Segundo o presidente do sindicato, Altino de Melo Prazeres Júnior, é uma situação inusitada: “Nunca vivemos uma coisa assim”. De acordo com o dirigente, o pagamento do salário era realizado no final de cada mês e o vale, no dia 15. Agora, o Metrô quer pagar os salários no quinto dia útil do mês, e o vale, no dia 20. Férias, somente para quem já está ultrapassando o limite que a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) permite: 11 meses após o vencimento.

O Metrô pretendia dividir a PR, tradicionalmente paga no final de fevereiro em parcela única, em três parcelas, sendo a primeira no final de março. “Tudo isso foi decidido sem nenhum diálogo com os trabalhadores, numa clara afronta aos direitos trabalhistas”, ressaltou Altino.

Em negociação no Tribunal Regional do Trabalho (TRT) da 2ª Região, foi proposto que a empresa pagasse a PR em duas parcelas, uma no início de março e outra em meados de abril, sendo o único ponto que a empresa aceitou. Segundo Altino, temendo ficar sem essa verba, a assembleia dos trabalhadores aceitou a proposta do TRT.

Também foram suspensas as progressões salariais e o abono de periculosidade para trabalhadores gerenciais em obras. A retirada destes direitos e as demais medidas anunciadas pelo Metrô serão questionadas pelos trabalhadores na Justiça do Trabalho.

De acordo com Altino, o Metrô alega estar em crise financeira. Porém, a companhia acumula balanços positivos. O lucro líquido da empresa saltou de R$ 28,4 milhões, em 2012, para R$ 76,4 milhões em 2013 e R$ 86,8 milhões, em 2014. Crescimento de 205% em três anos. “Os números de 2015 ainda não foram divulgados, mas sabemos que houve aumento no número de passageiros transportados, o que, com o aumento das tarifas, certamente elevou a receita”, afirmou.

O governador paulista, Geraldo Alckmin (PSDB), deixou de repassar R$ 255 milhões, correspondente aos passageiros com gratuidade, ao Metrô em 2014 e 2015. Os trabalhadores já suspeitavam que não estava sendo feito o repasse e que isso poderia prejudicar a categoria.

O valor da redução foi revelado a eles por diretores do Metrô, em reunião no TRT, no último dia 24. Em 2014, foram R$ 189 milhões – cifra que supera o lucro líquido do Metrô naquele ano e em 2015, R$ 66 milhões dos R$ 330 milhões previstos (redução de 20%).

“A retenção desse valor prejudica a categoria, que tem seus direitos ameaçados, e a população, porque impede o Metrô de realizar novas contratações, provocando filas na compra de bilhete, redução do atendimento nas plataformas e estações, entre outros problemas”, afirmou Altino.

O aumento no número de usuários transportados também preocupa os trabalhadores. O presidente do sindicato diz que o Metrô não repôs nenhum funcionário em 2015. E neste ano só contratou 12 pessoas, já entrando no terceiro mês de 2016. Com a proibição das horas extras, há poucos trabalhadores para atender à população. São 9.612 funcionários para 3,8 milhões de passageiros diários em média. Os dados são de 2014, os últimos disponíveis.

“O Metrô não vive sem hora extra. É uma conta simples. Se não repõe, os que estão na ativa têm de trabalhar mais. Mas com as medidas atuais, temos estações operando com um número mínimo de funcionários. À noite, a Estação República, da Linha 3-Vermelha, fica com apenas três operadores mais o pessoal da segurança”, afirmou.