Metalúrgicos estão perto de melhor nível de emprego em 20 anos

Estudo do Dieese aponta expansão no número de vagas ao longo dos últimos oito anos, que reverte redução da década de 1990

São Bernardo do Campo – Estudo divulgado nesta quarta-feira (19) mostra que o setor metalúrgico está perto de retomar os níveis de emprego do final da década de 1980, quando 2,4 milhões de brasileiros eram empregados por esse ramo econômico. Segundo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), foram abertas 900 mil vagas ao longo da década.

O levantamento, feito a pedido da Confederação Nacional dos Metalúrgicos (CNM), revela que há atualmente 2,1 milhões de postos de trabalho na metalurgia. Entre o último ano de governo Fernando Henrique Cardoso e o último de governo Lula (levando em conta os dados até abril), a expansão é de 60%. A manter-se o ritmo atual, o recorde registrado no biênio de 1987-1988 será batido ao longo de 2011.

A situação só não é melhor por conta da crise econômica internacional que afetou o Brasil ao longo do segundo semestre de 2008 e o primeiro de 2009. No geral, o setor vinha, durante o governo Lula, registrando expansão constante mês a mês mas, entre outubro de 2008 e julho de 2009, foi registrada uma forte retração.

Segundo Carlos Grana, presidente da CNM, durante a crise os empresários aproveitaram para demitir trabalhadores mais antigos, aumentando a rotatividade e recontratando a valores mais baixos. “Houve um exagero. Se tivéssemos entrado na onda de alguns empresários que em janeiro de 2009 queriam reduzir jornada com redução de salário, seria um caos”, afirma.

Os cortes só não foram maiores, na avaliação de Grana, devido às ações de incentivo dadas pelo governo ao mercado consumidor e aos setores produtivos. Houve redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) e linhas de crédito do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Analisando as áreas de atuação, a única que manteve o fôlego mesmo durante a crise foi a indústria naval. Um quadro que deve melhorar ainda mais nos próximos anos, com expectativa de um crescimento nos investimentos na ordem de 58% entre 2010 e 2013 na comparação com 2005-2008.

O Dieese lamenta que a década de 1990 tenha tido efeitos terríveis sobre o setor. O Brasil perdeu a posição de vice-líder mundial, com geração de 40 mil empregos. Para a entidade, a recuperação em curso é fundamental pelo enorme potencial empregatício da atividade, que gera quatro vagas indiretas para cada direta, com efeitos em toda uma rede de suprimentos.

A retomada da indústria naval ao longo dos últimos anos é explicada pelo Programa de Modernização e Expansão da Frota, que em sua primeira fase registra a encomenda de 26 navios e a liberação de R$ 6,2 bilhões em financiamentos para construção e modernização de embarcações. “Temos, para os próximos dez anos, empregos crescendo, em qualidade, e a possibilidade de colocar novamente os navios brasileiros no mundo”, assinala Grana.

Salários

O cenário positivo para a metalurgia como um todo tem resultado em ganhos para os trabalhadores. O aumento salarial real acumulado entre 2004 e 2009 é de 14,21% quando se leva em conta a base da Confederação Nacional dos Metalúrgicos, que reúne em torno de 1 milhão de pessoas.

Os dados por região mostram que os polos com maior atuação sindical continuam à frente no que diz respeito à remuneração média. Na região Sudeste, o salário fica em R$ 2.423,19, praticamente o dobro do registrado no Nordeste.

A boa notícia neste caso é que a disparidade regional, ainda que grande, vem diminuindo com o passar do tempo. O salário médio no Norte, que em 2005 correspondia a 60,3% da média do Sudeste, agora representa 64,9%, ou R$ 1.571,74. Uma oscilação parecida foi registrada no Sul e houve um aumento maior no Nordeste, que ainda tem o salário médio mais baixo entre os metalúrgicos, de R$ 1.241,05.

Para os sindicatos, essa redução nas desigualdades é fruto de campanhas por acordos coletivos que levam em conta que, se o preço do produto final é o mesmo em todo o país, o salário também deve ser igual. Além disso, por pressão sindical foram estabelecidos pisos salariais em regiões de menor remuneração.

Agora, a categoria espera pressionar o Congresso pelas aprovações da redução da jornada de 44 horas para 40 horas semanais e da convenção 158 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que tenta colocar freio às demissões injustificadas. O Dieese elenca como desafio a redução da rotatividade, que ainda gira em torno de 30% na média do setor metalúrgico. 

Os trabalhadores têm pela frente um panorama positivo na luta por essas conquistas. Os primeiros meses de 2010 vêm registrando um forte ganho nos acordos entre funcionários e empresários e segue havendo uma série de políticas estatais que visam incentivar a produção. Estima-se que o quadriênio 2010-13 terá uma expansão de 60,2% nos investimentos na comparação com 2005-2008.