Clientes apoiam greve dos bancários e cobram melhoria dos serviços

Os clientes criticam os serviços prestados pelos bancos e acreditam que os trabalhadores devem cobrar melhorias (Foto: Gerardo Lazzari/Rede Brasil Atual) São Paulo – No terceiro dia da greve dos […]

Os clientes criticam os serviços prestados pelos bancos e acreditam que os trabalhadores devem cobrar melhorias (Foto: Gerardo Lazzari/Rede Brasil Atual)

São Paulo – No terceiro dia da greve dos bancários, 8.527 agências do país aderiram ao movimento, 1.223 a mais que na véspera, segundo balanço divulgado no fim da tarde de hoje (20) pela Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf). Apenas em São Paulo 27 mil trabalhadores paralisaram as atividades. 

Praticamente todas as agências da região da Avenida Paulista, centro financeiro do Brasil, estiveram fechadas. Para saber como a população está lidando com a situação, a reportagem conversou com alguns clientes de bancos que estavam se utilizando de caixas eletrônicos ou de casas lotéricas para realizarem os serviços bancários.

O analista de sistemas Gabriel Cruz disse ver a greve dos bancários como uma demonstração de força e de unidade do sindicato. “É por meio das greves que eles conseguem melhorar a vida dos bancários.” Ele disse sempre utilizar dos serviços do banco via internet. “Eu quase nunca vou à agência”, contou.

Amanhã (21) o Comando Nacional de Greve irá se reunir para avaliar os primeiros dias do movimento. Hoje os bancários de São Paulo realizaram assembleia para definir os novos rumos da mobilização. “Essa é uma boa chance para a Fenaban [Federação Nacional dos Bancos] fazer uma nova proposta”, lembrou a presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Juvandia Moreira. Na próxima segunda-feira (24) está marcada uma reunião do Comando Local de Greve e uma nova assembleia com os bancários para definir as novas atividades.

Na avenida Paulista, a psicóloga Daniela Patrícia dos Santos disse se sentir prejudicada não pelo fechamento das agências, mas pelo mau funcionamento dos bancos. “Passei a maior dificuldade em minhas férias em Buenos Aires no mês passado, pois o banco não liberou meu cartão de crédito internacional, mesmo tendo perdido uma tarde inteira na agência para liberá-lo. Tive de importunar uma parente, a qual teve de fazer remessas de dinheiro para mim, senão teria passado fome”, contou. “E os bancos nem estavam em greve naquela época.”

A professora Ana Alice Fonseca acha justa e legítima a greve dos bancários. Ela, que estava pagando uma conta em uma casa lotérica na região, disse que raramente recorre às agências, por já ter passado constrangimentos como ter de abrir e mostrar sua bolsa para entrar na agência em que é correntista. 

A bióloga Roberta Reis reclamou do fato de os bancos deixarem de repor o dinheiro nos caixas eletrônicos durante as greves. “Chega um momento em que acaba o dinheiro das máquinas e ficamos na mão”, contou. 

Contingenciamento e interdito

Uma das estratégias usadas pelos bancos quando os trabalhadores entram em greve é o contingenciamento, método por meio do qual os bancos obrigam os trabalhadores a furar a greve. Segundo a presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Juvandia Moreira, o sindicato já recebeu denúncias este ano destas práticas, que incluem realocar funcionários para outros prédios ou para outras funções; ou mudar o horário de entrada dos empregados, que muitas vezes são obrigados a iniciar o expediente no meio da madrugada.

“Eles já chegaram a alugar até helicópteros para o transporte de trabalhadores e a alugar prédios inteiros para que os funcionários tenham de trabalhar, gastando uma fortuna com essas ações”, disse a presidenta. “Depois reclamam que não têm dinheiro para dar um reajuste honesto”, disse.

Juvandia recordou que o direito de greve é constitucional, sendo vedado às empresas adotar meios para constranger o empregado ao comparecimento ao trabalho. “Se algum bancário se encontrar nesta situação deve ligar para o sindicato que este o buscará, garantindo assim o direito de greve”, disse a presidenta.

Outra manobra utilizada pelos bancos para enfraquecer o movimento grevista é o interdito proibitório, uma ação judicial prevista no Código de Processo Civil que visa repelir algum tipo de ameaça à posse. “No entanto, os bancos a utilizam com o propósito de impedir que os trabalhadores exerçam seu direito de greve, o qual prevê, inclusive, a tentativa de convencer os colegas a aderir ao movimento”, contou Juvandia.

De acordo com a presidenta, a estratégia é de tal forma arbitrária que o sindicato já chegou a receber interditos proibitórios antes mesmo de iniciada a paralisação. “Mas o sindicato está entrando com ações para garantir o direito de greve, que é constitucional”, afirmou.