Pleito histórico

Espanha, Irlanda e Noruega se somam aos 140 países que reconhecem o Estado da Palestina

A independência e soberania têm como objetivo a paz na região, segundo os líderes. Em reação, Israel convocou seus embaixadores que servem nesses países para “consultas urgentes”

Frente Palestina SP
Frente Palestina SP
Premiê da Espanha, Pedro Sánchez, criticou Netanyahu pela guerra, que já matou mais de 35 mil palestinos em sete meses

São Paulo – Em um gesto coordenado e histórico, a Espanha, Irlanda e Noruega reconheceram a independência e soberania do Estado da Palestina. Com o anúncio, nesta quarta-feira (22), esses países europeus passam a integrar a lista com cerca de 140 outros com o mesmo posicionamento. O reconhecimento será formalizado na próxima terça (28).

Na prática, todas essas nações consideram as fronteiras firmadas na partilha da ONU, em 1967, e que qualquer violação à divisão torna Israel uma potência ocupante. Essa é a primeira vez desde o início da guerra entre Israel e o Hamas, em outubro do ano passado, que os governos do Ocidente endossam a reivindicação histórica dos palestinos.

De acordo com o primeiro-ministro da Noruega, Jonas Gahr Store, o reconhecimento tem como objetivo atingir a paz na região. O premiê foi o primeiro a fazer o anúncio e destacou que a solução dos dois estados é também de “interesse de Israel”. Na sequência, o primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez, criticou o governo de Israel pela continuidade da guerra, apesar dos apelos da comunidade internacional. Em sete meses, mais de 35 mil palestinos foram mortos na Faixa de Gaza.

‘Netanyahu não tem um projeto de paz’

“Pedimos um cessar-fogo. Mas não é suficiente. O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu se faz de surdo e continua castigando a população palestina”, contestou o líder espanhol. “O que está claro é que Netanyahu não tem um projeto de paz. Lutar contra o Hamas é legítimo. Mas sua operação coloca a solução de dois Estados em sério perigo. O que faz apenas ampliar o ódio”, completou.

O premiê da Irlanda, Simon Harris, destacou ainda que outros países farão anúncios no mesmo sentido nas próximas semanas. “Antes do anúncio de hoje, falei com vários outros líderes e estou confiante de que mais países se juntarão a nós para dar este importante passo nas próximas semanas”, acrescentou. Atualmente, a maioria dos países que reconhecem o Estado independente da Palestina faz parte da Liga dos Estados Árabes e do Movimento dos Países Não Alinhados. Mas há também países ocidentais nessa lista, como o Brasil.

A ONU, por exemplo, não reconhece plenamente a existência do Estado palestino. O país tem o status de “Estado Observador Permanente” desde 2012, o que lhe dá direito de participar dos debates e procedimentos da organização, mas não das votações. No início do mês, porém, a Assembleia Geral da ONU aprovou uma resolução que abre caminho para o reconhecimento da Palestina como Estado-membro da organização.

Israel reage

O texto pede que o Conselho de Segurança da ONU aprove a Palestina como o 194º membro das Nações Unidas. A resolução foi aprovada por 143 votos a favor, nove contra e 25 abstenções. O Brasil votou a favor da resolução. Argentina, Israel, Estados Unidos, República Tcheca, Hungria, Micronésia, Nauru, Palau, Papua-Nova Guiné deram votos contrários à medida.

O anúncio dos países europeus provocou reações em Israel, que convocou seus embaixadores da Irlanda e Noruega para “consultas urgentes”. O governo de Netanyahu também afirmou que pode convocar o embaixador na Espanha.

Momento histórico para a Palestina

“A decisão de hoje envia uma mensagem aos palestinos e ao mundo: o terrorismo compensa. Depois que a organização terrorista Hamas realizou o maior massacre de judeus desde o Holocausto, depois de cometer crimes sexuais hediondos testemunhados pelo mundo, esses países decidiram recompensar o Hamas e o Irã reconhecendo um Estado palestino”, atacou o ministro das Relações Exteriores de Israel, Israel Katz.

Para as autoridades palestinas, os anúncios coordenados por parte dos europeus é um “momento histórico” e mostra uma “nova tendência” entre as potências ocidentais, de acordo com informações do jornalista Jamil Chade no UOL.

A medida coloca ainda mais pressão sobre Netanyahu. Nesta segunda (20), ele teve sua prisão pedida pelo promotor-chefe do Tribunal Penal Internacional (TPI), Karim Khan, que investiga o conflito. O promotor pediu a prisão também do ministro da Defesa israelense, Yoav Gallant, e de lideranças do Hamas. O ataque do grupo armado palestino, em outubro, deixou cerca de 1.200 israelenses mortos e cerca de 350 reféns. E motivou reação de Israel, com uma ofensiva militar contra a Faixa de Gaza, que, além de deixar pelo menos 35 mil mortos, forçou o deslocamento de 2,3 milhões de palestinos que moravam em Gaza. O que equivale a cerca de 80% da população.

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Redação: Clara Assunção