Sufocamento

Sindicatos denunciam censura após Milei retirar do ar sites e perfis de rádios e TVs públicas da Argentina

Canais foram derrubados já nesta terça (21). Desde que assumiu o poder, presidente da Argentina promete acabar com a comunicação pública do país

Reprodução/X
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O Sindicato de Imprensa de Buenos Aires (SiPreBa) rechaça a medida. A entidade aponta que Milei está passando por cima do Senado com a intervenção nos meios públicos

São Paulo – O presidente da Argentina Javier Milei retirou do ar os sites e os perfis das redes sociais de veículos públicos de comunicação do país. Entre eles, a Televisón Pública, e a Radio Nacional da Argentina, além de diversas emissoras do interior, cujos canais foram derrubados já nesta terça-feira (21).

O sindicato dos trabalhadores que representa esses veículos denuncia que a medida configura censura contra a mídia pública. Em dezembro do ano passado, quando assumiu o poder, Milei prometeu acabar com esses canais de informação. O governo incluiu a medida como parte do seu pacote de motosserra, de arrocho fiscal, mas os ataques também têm razões ideológicas.

A Agência Telám, por exemplo, principal veículo de comunicação pública do país, está fora do ar desde o início de março. Os trabalhadores foram dispensados e, na época, o presidente ultraliberal justificou que o veículo era utilizado como “meio de propaganda kirchnerista”. O kirchnerismo é o principal movimento de oposição a Milei na Argentina, associado aos ex-presidentes Néstor (2003-2007) e Cristina Kirchner (2007-2015).

Em com comunicado divulgado nesta terça, a Presidência alegou que a decisão de “pausar temporariamente” os canais digitais de comunicação da mídia pública argentina tem como objetivo reorganizar os veículos para “melhorar a produção, realização e difusão dos conteúdos que geram”. “Se unificam os critérios de difusão em redes socais e se reiniciará a comunicação digital logo após uma reorganização interna das empresas”, complementou em nota.

O Sindicato de Imprensa de Buenos Aires (SiPreBa) rechaçou a medida. A entidade apontou que o governo está passando por cima do Senado com a intervenção nos meios públicos. “Denunciamos esta nova mostra de censura e de intimidação que se soma ao silenciamento da Telám”, afirmou.

Milei e a defesa da censura

O governo argentino trava uma batalha contra a mídia pública, acusada de favorecer adversários políticos de Milei. Além disso, a agenda de privatizações também conta com a venda dessas companhias. Inspirada no modelo europeu, a mídia pública na Argentina, assim como em outros países da América Latina, surge com a promessa de oferecer à população um conteúdo que, por não ter interesse comercial envolvido, não seria oferecido pela mídia privada. A explicação é do professor de comunicação da Universidade de Quilmes, na Argentina, Guillermo Mastrini.

“Quando você analisa a mídia comercial, as redes privadas, é (representa) a voz de São Paulo e Rio de Janeiro e, no caso da Argentina, de Buenos Aires. Quase ninguém mais tem visibilidade na mídia. A mídia pública é uma mídia que, como não tem objetivo de lucro, tem a possibilidade de mostrar as pessoas que não formam parte dos centros econômicos”, observou.

(*) Com reportagem de Lucas Pordeus León da Agência Brasil