Dignidade

Catadores de recicláveis reivindicam pagamento fixo pela coleta

Reunidos em Brasília na Expocatadores, trabalhadores do setor dizem que é hora de “fechar a conta” pelos serviços ambientais prestados pela categoria

Valter Campanato/Agência Brasil
Valter Campanato/Agência Brasil
"O que vocês fazem é um serviço em benefício da natureza, mas também em favor de todas as pessoas", disse Marina

Brasília – O presidente da Associação Nacional dos Catadores e Catadoras de Materiais Recicláveis (Ancat), Roberto Rocha, defendeu nesta quarta-feira (20), que além de continuarem revendendo o material que coletam, os catadores de material reciclável passem a receber um pagamento fixo, mensal, pelos serviços sociais e ambientais que prestam à sociedade. A proposta do movimento é que as prefeituras custeiem a atividade, com a participação da iniciativa privada.

“Ajudamos a recuperar todo o tipo de material reciclável; contribuímos com (a preservação) ambiental, e não recebemos (do Poder Público) nenhum pagamento por este trabalho”, disse o presidente da Ancat.

“Nossa proposta é que as prefeituras passem a pagar pelo serviço de limpeza. Que contratem cooperativas de catadores para que estas prestem um serviço de coleta seletiva. E possam, com isso, complementar os ganhos dos trabalhadores que, hoje, vivem apenas com o pouco que recebem com a venda do material reciclável. E que a iniciativa privada, as fabricantes de embalagens agreguem valor à cadeia dos catadores e catadoras através da logística reversa, da economia circular”, defendeu.

A associação e o Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR) abriram, em Brasília, nesta quarta-feira, a 10ª Expocatadores. A tradicional feira de negócios reúne catadores de materiais recicláveis de todo o país. Também participam empresários, gestores públicos, ambientalistas e ativistas sociais para debater os rumos da gestão de resíduos sólidos e da reciclagem no país.

Conta não fecha

A expectativa da Associação Nacional dos Catadores e Catadoras de Materiais Recicláveis (Ancat) e do Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR), entidades organizadoras do evento, é atrair cerca de 2 mil pessoas por dia ao Estádio Mané Garrincha, até a próxima sexta-feira (22), quando o evento termina. 

Com o mote É hora de fechar a conta!, a Expocatadores acontece pela segunda vez na capital federal. “É muito significativo e abrilhanta muito esta 10ª edição da feira o fato dela acontecer em Brasília, principal palco (da aprovação) de políticas públicas (no país)”, comemora o presidente da Ancat, Roberto Rocha, em entrevista à Agência Brasil.

Segundo Rocha, o lema central do evento representa a crise que catadores de material reciclável de todo o país estão vivenciando. Este ano, os catadores passaram por muitas dificuldades devido à queda dos preços, que caíram muito. A categoria não está conseguindo fechar a conta no fim do mês, e há muita gente recebendo menos de um salário mínimo por mês”, disse Rocha.

Mobilização 

Assim como em anos anteriores, o evento deve atrair a presença de várias lideranças políticas. Está prevista a participação do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, na celebração do Natal, ato que encerrará o evento, na manhã de sexta-feira. Ministros de Estado e representantes de órgãos públicos, além de ativistas e empresários também devem comparecer para participar de debates e conhecer o pavilhão de exposições.

Lado a lado, estão estandes de entidades como a Associação Brasileira de Indústrias Químicas (Abiquim), indústrias como a Coca-Cola e ONGs como a Oceana. Esta última, entre outras atividades, luta pela aprovação do Projeto de Lei 2524/2022. Assim, pela proposta, todo plástico no Brasil deve ser produzido obrigatoriamente com material reciclável, reutilizável ou compostável.

Marina 

A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, participou de um debate sobre a promoção governamental ao desenvolvimento da reciclagem popular. Ela destacou a importância da atividade dos catadores. Além disso, a exemplo de Rocha, defendeu que eles recebam remuneração digna pelos serviços prestados. 

“Existe uma coisa chamada pagamento por serviços ambientais. O que vocês fazem é um serviço em benefício da natureza, mas um benefício também em favor de todas as pessoas. Portanto, o debate que se faz é que, para além daquilo que devem ganhar pelo que recolocam nos processos de produção que iria para os aterros sanitários ou até mesmo para os lixões, deve ser feito um pagamento pela atividade, pelo trabalho, por aquilo que vocês são”, disse Marina, ecoando uma das várias reivindicações apresentadas pelo movimento.

“O poder público precisa intervir criando políticas públicas que nos ajudem. Pois muitos catadores não estão conseguindo colocar comida na mesa”, disse Eduardo Ferreira de Paula. Ele é uma das lideranças do movimento no estado de São Paulo, e que viajou a Brasília com um grupo de 194 pessoas. 

“Nossa expectativa é conseguirmos mudar a vida das pessoas que vivem em condições de vulnerabilidade, invisíveis, precarizadas”, acrescentou Anemone Santos. Ela é uma das coordenadoras do Fórum das Catadoras e Catadores de Rua e em Situação de Rua da Bahia. “Estamos atravessando dificuldades enormes devido à crise dos (preços dos) materiais. Já há muitas leis nacionais (que promovem a reciclagem). Mas a realidade é que, na ponta, ou seja, nas cidades, elas não são respeitadas porque os municípios não são fiscalizados”, cobrou Alexandre Deucher, do Movimento dos Catadores e Reciclagem de Santa Catarina.

Por Alex Rodrigues, repórter da Agência Brasil 


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