No Paraná

Adesão à greve dos professores é quase total e envolve outras categorias

Objetivo é pressionar deputados a não aprovar um pacote de medidas do governo do tucano Beto Richa que afeta direitos de servidores da ativa e de pensionistas

Ricardo Gozzi/RBA

Manifestação no centro administrativo de Curitiba leva deputados a realizar sessão em prédio privativo

Curitiba – A adesão à greve dos professores no Paraná era quase total nesta quarta-feira (11). Em Curitiba, apenas uma escola estadual funcionou, parcialmente. Todas as demais instituições de ensino mantidas pelo governo estadual estavam sem aulas, com professores, funcionários e até mesmo alunos mobilizados.

Educadores de cidades de todo o estado acampavam desde a noite de segunda-feira em frente à Assembleia Legislativa e ao ao Palácio Iguaçu, sede do Executivo, com o objetivo de pressionar deputados a não aprovar um pacote de medidas draconianas proposto pelo governo do tucano Beto Richa com o objetivo de cortar gastos públicos e que afetariam os ganhos de servidores da ativa e de pensionistas.

O pacote não afeta apenas os professores, mas o funcionalismo como um todo. Servidores de pelo menos 16 categorias estavam mobilizados nesta quarta-feira, inclusive profissionais da saúde e agentes penitenciários. “O projeto afronta o magistério e afeta o funcionalismo como um todo, uma vez que mexe com as aposentadorias dos servidores públicos”, observou o professor de história Davi dos Santos, diretor do núcleo Metrosul do Sindicato dos Professores do Paraná.

Com a paralisação por tempo indeterminado, quase nenhuma escola estadual paranaense deu início ao ano letivo. As universidades estaduais também aderiram. Entre as escolas de Curitiba, somente o colégio estadual Nossa Senhora da Salete deu início às aulas, mas opera parcialmente. À RBA, o diretor da escola, Carlos Antonio Comassetto, confirmou que a unidade está funcionando parcialmente, mas apoia a paralisação. “Cada escola tem suas particularidades. A nossa é uma escola pequena. Participamos da paralisação ontem e entendemos que as demandas foram atendidas parcialmente e o movimento já obteve êxito”, declarou.

A paralisação dos professores conta também com o apoio de pais e dos próprios alunos. Hoje, diversos jovens podiam ser vistos nas dependências da Assembleia Legislativa. O jovem Leonardo C., de 17 anos, defendeu os professores e opinou que eles não podem pagar pela má gestão dos recursos públicos pelo governo.

Com a ocupação do plenário da Assembleia Legislativa pelos professores em greve, ocorrida ontem, os deputados paranaenses realizaram a sessão desta quarta-feira em uma ala do edifício à qual o acesso é controlado. Uma ordem de reintegração de posse chegou a ser expedida durante a madrugada, mas não foi executada pela polícia a pedido dos deputados de oposição, afirmou o professor Hermes Silva Leão, presidente da APP, o sindicato dos trabalhadores no ensino público.

Cerca de 500 manifestantes passaram a noite nas dependências da Assembleia. Ao longo do dia, a ocupação transcorreu pacificamente e a Polícia Militar, apesar de ter mobilizado um contingente considerável, acompanhava à distância o vaivém dos manifestantes pelo legislativo.

Por uma questão regimental – a ocupação do plenário só permitiu que a sessão de ontem fosse encerrada hoje pelo presidente da Assembleia, Ademar Traiano –, os cortes nos gastos poderão ser votados somente amanhã.

“Lamentamos que os deputados tenham saído daqui e ido votar em outro lugar, de forma escondida, o que é do interesse da população e da maioria dos servidores”, declarou Marlei Fernandes, secretária de Finanças da APP.

Ricardo Gozzi/RBA
Acampamento e mobilização não devem arrefecer diante de postura do governo Richa

A mobilização dos professores fez com que o governo recuasse em relação a alguns dos pontos que afetavam mais especificamente os educadores, mantendo os anuênios e quinquênios, que seriam abolidos no projeto original, e também um programa de aperfeiçoamento profissional que permitia aos professores pararem por alguns meses para estudar e se aprimorar sem perda de salário.

O governo, no entanto, insiste em revisar a tabela de progressividade dos ganhos dos professores, o que levaria, entre outras coisa, à desindexação de benefícios como o auxílio-transporte. Segundo cálculos apresentados por Leão, sozinho o auxílio-transporte provocaria perdas de até R$ 720 por mês (para professores com carga horária de 40 aulas semanais).

Outra questão que mobiliza os grevistas é a parte do projeto por meio da qual o governo pretende transferir para uma conta única o dinheiro do fundo de previdência dos servidores aposentados. Os sindicatos acusam o governo de querer o dinheiro (cerca de R$ 8 bilhões) para cobrir o rombo nos cofres públicos do Estado. A maior parte desse fundo é composta por recursos descontados mensalmente dos salários dos professores. Para piorar a situação, o governo estadual não deposita há anos sua contrapartida no fundo de previdência. Em entrevista à RPC, afiliada da Rede Globo no Paraná, o chefe da Casa-Civil do Estado, Eduardo Sciarra, negou que o dinheiro seria usado para cobrir o rombo e assegurou que continuaria a ser usado para pagar os pensionistas.

As perspectivas, porém, não são otimistas. Uma votação realizada na terça-feira, cujo resultado foi anulado hoje pela manhã, mostrou que a base de apoio do governo não parece propensa a ceder à pressão dos professores.

Reeleição

Beto Richa reelegeu-se governador do Paraná em outubro passado com mais de 55% dos votos válidos já no primeiro turno. Durante a campanha e nos dias que se seguiram à reeleição, Richa pintou o quadro de um Paraná supostamente bem administrado e saneado financeiramente. Depois de algumas semanas, porém, pegou a população, a mídia e até mesmo a oposição de surpresa ao enviar para a Assembleia um projeto de aumento de impostos com a justificativa de recuperar as finanças do Estado, que encontrava-se, ao contrário do que ele declarara durante a campanha, à beira do colapso. Pelas ruas, pessoas que afirmam ter votado em Richa declaram-se ludibriadas e o governador raramente tem sido visto em público desde a posse para o segundo mandato.

E enquanto Richa não aparece, os professores tampouco parecem dispostos a abandonar o acampamento em frente às sede do Executivo e do Legislativo sem que suas demandas sejam atendidas.

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