Mercado de trabalho segue aquecido mesmo com incertezas, mas renda cai

Taxa de desemprego calculada pelo Dieese e pela Fundação Seade tem leve recuo em maio, com recuperação da ocupação; a de São Paulo foi a menor para o mês desde 1989. Emprego com carteira continua em alta

São Paulo – Eventuais incertezas quanto à atividade econômica no segundo semestre não impedem o mercado de trabalho de manter bom desempenho, conforme mostram dados da pesquisa divulgada nesta quarta-feira (29) pela Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade), de São Paulo, e pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). A taxa média de desemprego nas sete regiões metropolitanas pesquisadas teve leve recuo de abril (11,1%) para maio (10,9%). O dado mais positivo foi o crescimento do nível de ocupação e o mais preocupante, a queda dos rendimentos, como possível consequência da alta da inflação no início do ano. Na Grande São Paulo, a taxa ficou em 10,7% (ante 11,2% em abril), a menor para o mês desde 1989 (9,7%).

No mês, 151 mil pessoas ingressaram na População Economicamente Ativa (PEA), enquanto o mercado abriu 192 mil vagas, resultando em 40 mil desempregados a menos, para um total de 2,410 milhões. Números mais positivos vêm da comparação anual: em relação a maio do ano passado, a PEA tem 161 mil pessoas a mais (crescimento ainda pequeno, de 0,7%), enquanto o número de ocupados aumentou em 656 mil (3,4%). Com isso, as sete regiões têm 494 mil desempregados a menos (queda de 17%).

A alta anual da ocupação (3,4% sobre maio de 2010) foi a primeira nessa base de comparação desde setembro do ano passado. Isso aconteceu também em São Paulo, onde o nível de ocupação cresceu 3,7% e interrompeu movimento de desaceleração verificado desde outubro. Para o coordenador de análise do Seade, Alexandre Loloian, ainda “paira dúvida” sobre o desemprego nos próximos meses. O resultado positivo em maio em São Paulo foi consequência, basicamente, do desempenho do comércio e dos chamados “outros setores”, que incluem emprego doméstico e construção civil. “Se as condições econômicas derem sustentação aos investimentos, podemos ter um comportamento similar ao que costuma haver no segundo semestre”, comentou.

O economista Sérgio Mendonça, do Dieese, prefere aguardar um pouco mais. Mesmo assim, avalia que há “boa chance” de o mercado de trabalho ter o que ele chama de “ano típico” – ou seja, com aumento de ocupação e queda do desemprego no segundo semestre.

Na comparação anual, dos 656 mil postos de trabalho nas sete regiões, 434 mil se concentraram no setor de serviços (expansão de 4,3%) e 139 mil, do comércio (4,5%). A construção civil criou 82 mil vagas (6,7%) e a indústria ficou próxima da estabilidade, com 23 mil (0,8%).

O emprego com carteira assinada continua em alta. De abril para maio, foram criadas 130 mil vagas (1,4%). Em 12 meses, foram 734 mil, crescimento de 8,3%.

No bolso

O dado negativo da pesquisa foi a queda do rendimento médio dos ocupados (R$ 1.367) pelo sexto mês seguido (-1,2%). A renda caiu no Distrito Federal (-3,7%), São Paulo (-1,5%), Belo Horizonte (-1,4%) e Porto Alegre (-1,3%), mas cresceu na região Nordeste: 1,9% em Salvador, 1,3% em Fortaleza e 0,7% em Recife). Em 12 meses,  o rendimento médio ainda sobe (2,9%), com destaque para Recife (9,7%) e São Paulo (6,3%).

“A  inflação teve efeito na redução do rendimento médio”, observou Sérgio Mendonça. Ele lembrou ainda que em 2010 houve recuperação do emprego industrial, que costuma puxar a renda para cima, enquanto neste ano o setor não mostra o mesmo bom desempenho. 

“Como o consumo das famílias é 60% do PIB, é daí que pode resistir a sustentação de algum crescimento (da economia)”, acrescentou o economista do Dieese. “Esta é uma variável chave para determinar o crescimento”.