Copom não surpreende, aumenta taxa de juros e sinaliza mais aperto

Com a decisão, Selic foi a 12,25% ao ano, na quarta alta seguida e no maior nível em mais de dois anos. Sindicalistas e empresários criticam

São Paulo – Sem surpresas, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu na noite desta quarta-feira (8) elevar em 0,25 ponto percentual a taxa básica de juros, a Selic, para 12,25% ao ano. Foi a quarta alta seguida, todas já com Alexandre Tombini à frente do BC. A taxa está agora em seu nível mais alto desde o início de 2009, quando, durante a crise econômica internacional, chegava a 12,75%. Nas quatro últimas reuniões, a Selic subiu em 1,5 ponto.

 A decisão foi unânime e sem viés. Na nota divulgada ao final da reunião, o Copom sinaliza que o aperto deverá continuar, ao falar em “processo de ajuste gradual” das condições monetárias. “Considerando o balanço de riscos para a inflação, o ritmo ainda incerto de moderação da atividade doméstica, bem como a complexidade que envolve o ambiente internacional, o Comitê entende que a implementação de ajustes das condições monetárias por um período suficientemente prolongado continua sendo a estratégia mais adequada para garantir a convergência da inflação para a meta em 2012”, afirma.

Entre cenários que vão dos riscos do crescimento ao desaquecimento excessivo, ainda prevalece a tese de que é preciso moderar o ritmo da economia. Na visão do Copom, ainda há dúvida sobre o “ritmo de moderação” da atividade doméstica. Quanto à inflação, nas últimas semanas o mercado tem reduzido suas projeções para este ano, com as preocupações já se voltando para 2012.

“Decisão lamentável”

A primeira reação negativa, como costuma ocorrer, foi do presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e do Centro das Indústrias (Ciesp), Paulo Skaf. “Depois de cinco semanas de queda consecutiva na expectativa de inflação, da queda de 3,8% na produção da indústria paulista e de 2,1% da brasileira de abril ante março, eu gostaria de saber por que os juros ainda subiram”, questionou. “Tenho certeza que a sociedade também não compreendeu as razões desse aumento inadequado e inoportuno, que prejudica todo o país.”

Já o presidente nacional da CUT, Artur Henrique, considerou “lamentável” a decisão. “Todos os indicadores mostram que a inflação está sob controle, a despeito do catastrofismo de parte da imprensa, inflada pelos únicos interessados na alta da taxa, que são os banqueiros e os ricos que têm aplicações financeiras nos papéis da dívida pública”, afirmou o sindicalista, para quem a questão é muito mais complexa do que uma mera discussão técnica. “Falamos de emprego, salários, de políticas públicas e sociais – todos duramente golpeados a cada aumento da Selic.” Artur também cobrou promessa do atual governo, de levar a taxa básica de juros a um nível considerado “decente”: “Por enquanto, essa promessa é uma miragem”.

Por sua vez, o presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf, filiada à CUT), Carlos Cordeiro, recorreu ao escritor colombiano Gabriel García Márquez. “Com o atual modelo de definição das taxas de juros, em que o Banco Central ouve apenas o mercado financeiro, a nova alta da taxa Selic já era de conhecimento da sociedade desde o final de semana. Parece a ´crônica de um morte anunciada´”, citou. “Todos já conhecem o final. Essa transferência de renda concentra riqueza e empobrece a nação.”

Para Cordeiro, o BC precisa ter “coragem” de enfrentar o sistema financeiro. “Além das metas de inflação, o BC deveria fixar também metas sociais, como o aumento do emprego e da renda dos trabalhadores e a redução das desigualdades sociais do país. Para isso, é fundamental amplicar o Conselho Monetário Nacional, de forma a contemplar a participação da sociedade civil organizada na discussão dos rumos da economia.”

O presidente da Força Sindical, deputado Paulo Pereira da Silva, o Paulinho (PDT-SP), também criticou a decisão do Copom que considerou “um grave equívoco”, com reflexos negativos na criação do emprego e aumento do gasto público. “O aumento (da taxa básica) é desnecessário, visto que o cenário econômico está mais favorável, com sinais evidentes de controle inflacionário. Infelizmente, o impacto recai unicamente no setor produtivo, afetando negativamente a atividade e o emprego.”