Deflação não chega aos mais pobres. ‘Continua tudo caro’
Índice que mede a inflação por faixa de renda em São Paulo mostra que redução de alguns preços beneficia somente famílias com renda de pelo menos R$ 10 mil
Publicado 10/08/2022 - 18h09
São Paulo – O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), divulgado nesta terça-feira (9), pelo IBGE, registrou queda de 0,68% em julho. A deflação decorre principalmente da queda dos preços da gasolina (-15,44%) e do etanol (-11,38). Por outro lado, os preços dos alimentos continuam subindo, com alta de 1,30% no mês passado. Assim, apenas os mais ricos podem sentir algum alívio no bolso. Enquanto os mais pobres continuam sofrendo com a carestia.
É o que mostra o índice IPC FX, da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), que mede a inflação na cidade de São Paulo por faixa de renda. Para as famílias com renda superior a dez salários mínimos (R$ 12.120), houve deflação de 0,11%. Mas para aquelas que recebem até três mínimos (R$ 3.636), a alta de preços ficou em 0,44%, no mês passado.
Isso porque os gastos com alimentação representam uma parcela maior da renda dos mais pobres. Logo, o principal drama continua sendo o esvaziamento contínuo do carrinho do supermercado. Por outro lado, como a maioria não tem carro, ou se locomove prioritariamente pelo transporte público, essa parcela não sentiu a queda dos preços dos combustíveis na mesma proporção que a classe média alta e os mais ricos.
“A alta dos alimentos impacta diretamente os mais pobres. Porque a parcela maior do gasto de quem ganha menos está colocada na alimentação”, afirma o diretor técnico do Dieese, Fausto Augusto Junior. Entrevistado por Rafael Garcia, para o Jornal Brasil Atual, nesta quarta-feira (10), ele destaca que a redução dos preços dos combustíveis se deve fundamentalmente à redução do ICMS. Nesse sentido, trata-se de uma medida “eleitoreira”, “temporária” e “regressiva”, segundo ele.
Privilégio aos mais ricos
Fausto aponta que redução do ICMS sobre os combustíveis pode até produzir nova deflação no próximo mês. Mas seus efeitos tendem a se diluir ao longo do tempo. Além disso, tal medida resulta em perda de arrecadação para estados e municípios. O que deve reverter em queda nos investimentos nos serviços públicos, fenômeno que deve ser sentido a partir do próximo ano.
“É uma política baseada na concentração de renda e no privilégio dos mais ricos em relação aos mais pobres. Quando o governo optou por esse caminho de redução de impostos dos estados, o que acaba acontecendo é que você retira recursos da Saúde, Educação e Assistência Social. E transfere para a classe média e para a classe alta, porque são os que de fato se utilizam mais da gasolina do etanol”, criticou o diretor do Dieese. “Além disso, é uma medida que acontece a poucos meses da eleição. Ou seja, é claramente eleitoreira”, acrescentou.
Além disso, Fausto ainda destacou outros fatores que contribuem para a piora da qualidade de vida da população. Como exemplos, ele citou as altas taxas de desemprego e o recorde de trabalhadores na informalidade, o que resulta na queda continuada na renda dos brasileiros. Nos últimos 12 meses, o rendimento médio do trabalhador caiu 5,1%.
Internautas reclamam
Enquanto o governo comemora a deflação, nas redes sociais, os internautas alegam que não sentiram qualquer alívio no bolso. O termo “CONTINUA TUDO CARO” esteve entre os mais comentados nesta quarta-feira (10). O preço do leite longa vida, que subiu 25,46% em julho, foi um dos mais citados. Outros laticínios, como o queijo e a manteiga, também tiveram alta de mais de 5% somente no último mês.
Os usuários também associaram a alta dos alimentos com o quadro de fome que afeta 33 milhões de brasileiros. E destacaram que se as condições econômicas não estivessem ruins, o governo Bolsonaro não teria se empenhado em aprovar o auxílio de R$ 600 até o final do ano, em mais uma ação classificada como “eleitoreira”.
CONTINUA TUDO CARO
— Pat Suburbana (@patsuburbana) August 10, 2022
E esse leite a 7,39 deve ser preço médio, pq aqui paguei 9,19!! https://t.co/TAQzhTsgud pic.twitter.com/XuW4WIJKQQ
Se a economia estivesse tão boa, pleno emprego e povo feliz como o Bolsonarismo tenta emplacar, Bolsonaro não precisaria dar vale diesel nem aumentar o bolsa família para ganhar votos.
— Josias 70 X 7 (@josias70X7) August 10, 2022
Continua tudo caro!
Nem 9 da manhã e já perdi a conta de ~~influenciador financeiro tentando engajamento perguntando “e aí, já sentiu os sinais da deflação?”
— raphael. (@tabomraphael) August 10, 2022
Amore, em que país você vive? Pq gente com fome não come gasolina e aqui continua tudo caro pra caralho.
R$ 60,00 o kilo do queijo mussarela!
— Gilbert (@gilfagote) August 10, 2022
CONTINUA TUDO CARO! https://t.co/hKYxg6RFVC
Não é coincidência e nem incompetência! Bolsonaro deixou o povo mais pobre, roubou, comprou o congresso e governa para os ricos. CONTINUA TUDO CARO!
— Monica Benicio (@monica_benicio) August 10, 2022
Baixou a gasolina, mas não baixou o diesel e CONTINUA TUDO CARO pic.twitter.com/AdycBUa1A2
— Cleberˢᶜᶜᵖ ◢◤ 🇧🇷🚩 (@cleberiam) August 10, 2022
Ontem. Zona oeste do Rio (periferia!!!)
— Vinícius Sacramento 🎙️ (@vinnybrandt) August 10, 2022
CONTINUA TUDO CARO pic.twitter.com/3FZ4InP9Vq
CONTINUA TUDO CARO
— adynews (@ady_news) August 10, 2022
E um miojo por TRÊS REAIS é um CRIME
POR*A PAULO GUEDES https://t.co/7kBUSWVE6l