FEDERAL FLUMINENSE

População negra é mais afetada por calor extremo, afirma pesquisador

Geógrafo Diosmar Filho, da Universidade Federal Fluminense, diz que acesso a saúde, transporte, saneamento e moradia tem relação com enfrentamento aos efeitos das mudanças climáticas

(Paulo Pinto/Agência Brasil)
(Paulo Pinto/Agência Brasil)
Forte calor atingiu diversas cidades em novembro

Agência Brasil – Os impactos das ondas de calor extremo são mais intensos para as populações de áreas periféricas dos centros urbanos e particularmente para os negros, que representam geralmente a maioria dos moradores dessas localidades. É o que aponta o geógrafo Diosmar Filho, pesquisador da Universidade Federal Fluminense (UFF) e também coordenador científico da Associação de Pesquisa Iyaleta.

“Nessas áreas, há menos infraestrutura e menos assistência à saúde, ao transporte, ao saneamento e à moradia. E tudo isso tem relação com a forma como vamos enfrentar os efeitos causados pelas mudanças climáticas, por exemplo, no momento das chuvas ou no aumento da temperatura com as ondas de calor”, diz. Diosmar observa que bairros periféricos, geralmente mais adensados e sem áreas verdes, estão também mais sujeitos a problemas de abastecimento de água e de energia elétrica. Todos esses elementos são apontados como fatores que agravam os efeitos de um dia muito quente. O geógrafo lembra que, nesses dias, é preciso beber mais água. “Há áreas onde a água não chega em quantidade e qualidade. Em Salvador, por exemplo, há regiões periféricas que chegam a ficar um mês inteiro sem abastecimento”, enfatiza.

(Arquivo Pessoal via Agência Brasil)
Diosmar Filho, pesquisador da Federal Fluminense (Arquivo Pessoal via Agência Brasil)

Mudanças climáticas

Sediada na capital baiana, a Associação de Pesquisa Iyaleta investiga as mudanças climáticas e as desigualdades raciais, de gênero, sociais e territoriais. Há mais de dois anos, o corpo de pesquisadores vem aprofundando os estudos em áreas urbanas situadas dentro do perímetro da Amazônia Legal. Os envolvidos possuem formação em diferentes áreas, que vão das ciências humanas às ciências da saúde. No ano passado, Diosmar e outros sete pesquisadores participaram da produção de cadernos trazendo análises sobre os eventos climáticos em Porto Velho e em Cuiabá.

Eles chamam atenção para as características dos chamados aglomerados subnormais, classificação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para formas de ocupação irregular do solo com fins de habitação em áreas urbanas. Em geral, são definidos pelo padrão urbanístico irregular e pela carência de serviços públicos essenciais. Também são marcados pelo adensamento, isto é, possuem uma grande concentração de moradores. Em Porto Velho, 12,2% da população residem nessas áreas. Cuiabá foi uma das cidades que mais sofreu na onda de calor extremo registrada em novembro, tendo sido por alguns dias a capital mais quente do país com temperaturas que chegaram a superar os 40ºC.