Saúde da Família adapta-se ao Centro de SP

Enfermeira chega para uma visita na região central de São Paulo. Atendimento de idosos que vivem sozinhos na região (Foto: Danilo Ramos) São Paulo – No centro de São Paulo, […]

Enfermeira chega para uma visita na região central de São Paulo. Atendimento de idosos que vivem sozinhos na região (Foto: Danilo Ramos)

São Paulo – No centro de São Paulo, o Programa da Saúde da Família tem peculiaridades, comparado a outras regiões. A política, aplicada em todo país e que atende a 98 milhões de brasileiros, foi ajustada à população que reside na área.

A Unidade Básida de Saúde (UBS) República foi aberta com o intuito de atender exclusivamente a população de rua. “Nosso dia a dia acabou confirmando um estudo da Secretaria Municipal de Saúde que indicava que o centro não era uma região sem moradores”, afirma Tatiana Alecrim, gerente da unidade.

 

Aí entra outra peculiaridade: na região central, não há tantas famílias com a constituição convencional de pais e filhos, mas muitos idosos morando sozinhos. Como há maior envolvimento com cada paciente, há, por consequência, vínculos maiores com a comunidade. O médico Daniel Ferreira, que havia formado na periferia grupos para discutir tabagismo, alcoolismo e hipertensão, deparou-se com novos desafios quando passou a atuar na República. Ficou claro que o isolamento das pessoas é um dos motivos para algumas doenças mais recorrentes nesta área.

“O médico deveria trabalhar muito mais na lógica da saúde do que na doença”, pontua. “A doença é uma possibilidade de transformação. Tentamos fazer da doença o casulo da lagarta. É apertado, é escuro, é ruim. Mas se tiver calma para sair de lá, vai sair uma borboleta, muito mais bonita”, compara.

Quebrar o gelo, sociabilizar passou a ser tarefa de Daniel, que todas as sextas-feiras reúne seu grupo para atividades. Alimentação saudável, cultura e estilo de vida estão entre os objetivos principais dos encontros, que começam à uma e meia da tarde na Galeria Olido.

Passeios

Alguns torceram o nariz para o passeio daquela sexta-feira. Acostumados a museus e a centros culturais, os integrantes do grupo estranharam quando souberam que o Cemitério da Consolação, o mais antigo de São Paulo, era o destino. Uma forma de discutir com os pacientes a aceitação da morte como um fenômeno natural, ao mesmo tempo em que se aproveita a caminhada para ver obras de arte e alguns dos maiores mausoléus do país e do continente.

Transporte público foi a forma de deslocamento para o grupo, que neste dia contava em torno de 15 pessoas. Um alongamento, uma breve conversa e já estavam todos preparados para iniciar o giro pelo luxuoso cemitério, que abriga famílias tradicionais, artistas, políticos. Maura Fernandes, violão em mãos, não descuida um segundo da parte musical do evento. Dona Marta, aos 84, garante não ter medo da morte e desfruta o passeio. Dona Cida, que relutou em vir devido a um problema no joelho, tenta esquecer a dor enquanto pode. Mário de Andrade, Prudente de Morais e Marquesa de Santos ficam para trás. O grupo se aproxima do final da visita. Durante algumas horas, amizades iniciadas graças a este trabalho se reforçaram, idosos deixaram problemas de lado; o silêncio do cemitério ajudou a trazer paz para os ânimos. No dia seguinte, estarão todos novamente reunidos para um sarau organizado pelo médico.

Outros exemplos de interação entre equipe de Saúde da Família e comunidade surgem pelo Brasil. Rompe-se, aos poucos e graças ao esforço de muitos profissionais que aceitam ganhar menos do que conseguiriam na iniciativa privada, o conceito da necessidade de consultas rápidas e frias, pilhas de exames, muitos remédios e pouca satisfação.