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Países ricos iniciam terceira dose em pessoas saudáveis. Ciência e OMS contrariadas

Se os Estados europeus passarem a aplicar doses extras, sem comprovação de necessidade, a desigualdade vacinal no mundo tende a aumentar

Pixabay
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"Não ficarei calado quando as empresas e os países que controlam o fornecimento mundial de vacinas pensam que os pobres do mundo devem se contentar com os restos”, disse o diretor geral da OMS, Tedros Adhanom

São Paulo – A Agência Europeia de Medicamentos (EMA) autorizou ontem (4) os países do continente a aplicar a terceira dose de vacinas contra a covid-19 para adultos acima de 18 anos. A decisão não encontra eco na Organização Mundial da Saúde (OMS), nem no Food and Drug Administration (FDA), órgão regulador de medicamentos dos Estados Unidos. Isso porque, se os estados europeus passarem a aplicar doses extras à sua população, sem comprovação científica de necessidade, a desigualdade vacinal no mundo tende a aumentar.

Mais de 70% das vacinas no mundo foram aplicadas em residentes dos 10 países mais ricos. Enquanto isso, de acordo com dados de hoje, o continente africano tem pouco mais de 3% de pessoas totalmente imunizados. Estudo publicado em 13 de setembro, revisado pelo FDA e equipe da inteligência epidemiológica da OMS, publicado no periódico científico The Lancet, afirma que não há necessidade, ao menos agora, de uma terceira dose em adultos saudáveis. As entidades defendem que a chamada dose de reforço deve ser aplicada nas populações vulneráveis, como idosos e imunossuficientes.

Uns com tanto

“No momento não queremos um uso generalizado de doses de reforços para as pessoas em boa saúde que estão totalmente vacinadas. Não ficarei calado quando as empresas e os países que controlam o fornecimento mundial de vacinas pensam que os pobres do mundo devem se contentar com os restos”, protestou o diretor geral da OMS, Tedros Adhanom.

O fornecimento de vacinas para países mais pobres vem sendo tratado com pouca objetividade pelas demais nações . A OMS lidera o consórcio Covax Facility, que tem como objetivo arrecadar e fornecer imunizantes para os países em pior situação. Em 2021, apenas cerca de 30% da meta de 2,3 bilhões de doses distribuídas deverá ser alcançado. Com isso, em vez de acelerar o processo, o consórcio preferiu adiar a data limite para atingir o objetivo, que passou para o primeiro trimestre de 2022.

Enquanto isso, países como Israel já oferecem a terceira dose para pessoas acima de 12 anos. Mesmo assim, estes países são impactados pelo vírus, já que parte de seus habitantes adere ao negacionismo e à desinformação.

A mercantilização das vacinas foi classificada pelo secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, como “não apenas decepcionante, mas desconcertante”. O cenário é lamentável, já que, conforme fala de Gutérres, “Temos vacinas eficazes contra a covid-19. Podemos acabar com a pandemia”. Entretanto, o descaso do mercado com a desigualdade vacinal, tratando as vidas em países ricos como mais valiosas do que nas nações pobres, deve prolongar a pandemia.

Fatos

Diante dos estudos apresentados em plataformas científicas globais, a OMS afirma que a terceira dose deve ser aplicada “em grupos vulneráveis”. E que “não há dados que apoiem a terceira dose da vacina para a população geral”. No Brasil, enquanto isso, apesar da ampla adesão da população às vacinas, existe a falta pontual de doses, em especial da AstraZeneca. Até o momento, 46,72% dos brasileiros está totalmente imunizada com duas doses ou vacina de dose única. E 75,72% tomara a primeira dose de algum imunizante. Os dados são do Ministério da Saúde.

Também hoje, o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) recebeu o registro de 677 mortes em um período de 24 horas. Com o avanço, o número de vítimas do vírus no país chegou a 598.829. No mesmo período, foram notificados 20.528 novos casos da doença, totalizando 21.499.074 desde o início do surto, em março de 2020.

Números da covid-19 desta terça-feira no Brasil. Fonte: Conass

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