Em uma semana

Casos de covid-19 explodem em São Paulo, que volta a passar de 4 mil mortes

Número de mortes em São Paulo é o maior desde o final de abril. E 123 mil novos casos registrados na semana é o pior número de toda a pandemia

Marcello Casal Jr/Agência Brasil
Marcello Casal Jr/Agência Brasil
Fase de transição de Doria abandona ações para evitar proliferação da doença e resultado será mais mortes em São Paulo

São Paulo – Com a continuidade da fase de transição, criada pelo governo João Doria (PSDB) para liberar todo o comércio e os serviços mesmo com a pandemia do novo coronavírus totalmente descontrolada, o estado de São Paulo voltou a registrar mais de 4 mil mortes pela covid-19 em uma semana. Além disso, foram registrados mais de 123 mil novos casos, o maior número para uma semana desde o início da pandemia. A taxa de ocupação de Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) teve queda, mas mais induzida por um aumento da oferta de leitos do que por uma redução no número de pacientes internados com a doença.

O número de mortes pela covid-19 em São Paulo passou de 4 mil por semana, pela primeira vez, no final de março. Desde a segunda quinzena de abril, o número de óbitos passou a cair, embora de forma lenta e apresentando algumas oscilações de alta, mas sem voltar ao patamar atual, durante seis semanas. E desde o início voltou a subir, sendo: 3.072 óbitos na semana de 30 de maio a 5 de junho, 3.699 na semana de 6 a 12 de junho e 4.073 óbitos na semana de 13 a 19 de junho. Assim, média diária atual é de 577 mortes pela covid.

Depois do pico da pandemia em abril, e uma subsequente queda de casos, São Paulo vem registrando um aumento grave de novos casos de covid-19. Desde o início de maio, quando foram registrados pouco mais de 79 mil casos em uma semana, o número não parou de subir, e a marca de 123.642 casos essa semana é a maior de toda a pandemia.


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A taxa de novos casos chegou a 487 por 100 mil habitantes, também a maior de toda a pandemia. Para se ter ideia, os parâmetros internacionais consideram que a pandemia está totalmente fora de controle quando o número de novos casos passa de 100 por 100 mil habitantes.

O aumento dos casos é concomitante com a criação da fase de transição do Plano São Paulo que, embora esteja entre as fases vermelha e laranja, permite o funcionamento do comércio e dos serviços e a circulação de pessoas de forma semelhante à fase verde da quarentena. Hoje, todos os setores podem funcionar das 6h às 21h, sem limite de ocupação, apenas com a recomendação de que a lotação não ultrapasse 40% da capacidade.

Já o número de novas internações registrou pequena queda nos últimos dias, caindo de 2.760 no dia 12, para 2.442 no último sábado (19). No entanto, ainda é um número maior de internações do que o registrado em todo o ano passado, perdendo apenas para o pico de abril deste ano. A taxa de ocupação de UTIs registrou uma queda, chegando a 76,9%, ficando abaixo de 80% pela primeira vez em semanas. No entanto, essa queda se deve principalmente a um aumento do número de leitos de UTI para atendimento de pessoas com covid-19.


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Há quatro semanas, em 24 de maio, havia 10.346 pessoas internadas e a taxa de ocupação de UTI era de 81,7%. Ontem, havia 10.639 pessoas internadas, mas a taxa de ocupação de UTIs ficou em 76,9%. Isso porque o governo Doria aumentou o número de leitos de 12.668 para 13.820. Ou seja, 1.152 leitos a mais.

Apesar disso, sete regiões do estado ainda apresentam taxas de ocupação de UTI acima de 90%: Araraquara, Barretos, Bauru, Marília, Presidente Prudente, Ribeirão Preto e São João da Boa Vista. Outras quatro, acima de 80%: Franca, Piracicaba, São José do Rio Preto e Sorocaba. Todas essas deviam estar na fase vermelha da quarentena, com restrições à circulação de pessoas e ao funcionamento do comércio. Araçatuba, Grande São Paulo, Baixada Santista, Campinas, Registro e Taubaté estão com a ocupação abaixo de 80%.

O governo Doria sempre apresentou o aumento de leitos como uma resposta eficiente à pandemia, ignorando que a mortalidade pela covid-19 em pacientes em UTIs é alta. Segundo dados do Projeto UTIs Brasileiras, da Associação de Medicina Intensiva Brasileira (Amib), metade dos pacientes em UTIs morre. Entre pacientes com covid-19 que necessitam de intubação, a situação é ainda pior, pois 75% morrem.

Os altos índices de internações vão resultar em mais mortes por covid-19 em São Paulo, em algumas semanas. No entanto, o próprio governo Doria já admitiu que as flexibilizações devem elevar a média diária de mortes para até 600, o que deve ocorrer até o final de junho, no ritmo atual.