Editorial

Podres poderes de distorção e condução da política

Graças à cumplicidade de imprensa tradicional, governador Geraldo Alckmin (PSDB) alcança sucessivas vitórias eleitorais, mesmo diante de um quadro de negligência no estado mais rico do país

Alice Vergueiro/Folhapress

A imprensa é cúmplice do governador Geraldo Alckmin no descaso com a educação

O presidente da Câmara tem pressa em dar como aprovado um projeto de reforma política. Seu objetivo é dizer que fez a reforma tão cobrada pela sociedade, e ao mesmo tempo deixar tudo como está. Se concretizar a constitucionalização das doações de empresas a partidos, a reforma será uma afronta ao que amplos setores, dos movimentos sociais ao meio jurídico, alertam há anos: o financiamento privado de campanhas desequilibra disputas eleitorais.

Há demonstrações concretas do quanto o grande empresariado tem interesse em manter o sistema de financiamento por meio do qual sequestra o poder político. Levantamento feito pela Rede Brasil Atual mostrou, por exemplo, placar semelhante em votações emblemáticas da Câmara: uma que legaliza o uso indevido de mão de obra terceirizada e outra que mantém os financiamentos de empresas a partidos. De cada dez deputados favoráveis ao dinheiro empresarial em suas campanhas, oito foram também a favor de liberar geral as terceirizações. Obviamente, não se trata de coincidência.

Além da forte presença do poder econômico nas decisões políticas, a imprensa
oligopolizada também exerce poder capaz de interferir na leitura que a sociedade faz da política. Recentes pesquisas do Vox Populi e do Ibope revelam que os meios de comunicação passam para a opinião pública uma situação econômica pior do a que a sentida na realidade. O resultado é um temor generalizado de perda de renda e de emprego. Metade dos entrevistados pelo Vox Populi, para se ter ideia, acha que a inflação está na casa dos 20% – ao mês – enquanto o índice mais elevado está na faixa de 8% – ao ano.

Os meios de comunicação exercem poder também pela forma como amplificam ou escondem fatos, conforme sua conveniência. Graças ao apoio da imprensa tradicional, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) alcança no estado sucessivas três vitórias eleitorais, mesmo diante de um quadro de negligência em um dos serviços públicos mais importantes para a cidadania: a educação. Ao ajudar o governador a esconder os movimentos dos professores, a omissão da mídia é cúmplice também da situação de penúria a que está submetido o ensino público no estado mais rico do Brasil.