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Guardião do vale dos dinos

João Correia Filho Algumas vacas do rebanho de Anísio Fausto da Silva fugiram para a caatinga de Souza (PB), e ele, ao buscá-las, achou o que chamou em 1890 de […]

João Correia Filho

Algumas vacas do rebanho de Anísio Fausto da Silva fugiram para a caatinga de Souza (PB), e ele, ao buscá-las, achou o que chamou em 1890 de “rastros do boi e da ema” cravados nas pedras. Na verdade, estava diante de maior trilha de pegadas de dinossauros do mundo. “Foi um tipo de herança que ele, meu avô, me deixou. Aqui está a minha vida”, diz Robson Marques, 65 anos, conhecido como Guardião do Vale dos Dinossauros. Em 1975, Robson teve a dimensão do que aqueles rastros representavam ao guiar o paleontólogo italiano Giuseppe Leonardi pelo sertão paraibano. O lugar hoje é tido como um dos mais importantes sítios da paleontologia mundial, com dezenas de pegadas de dinossauros carnívoros do Período Cretáceo, há mais de 65 milhões de anos.

Com pouco mais de 60 mil habitantes, Souza é bastante influenciada pelas descobertas do avô de Robson, como indicam as placas de vários estabelecimentos – Motel Dino, Forró dos Dinossauros, Açougue do Vale, e até o time da cidade, o Souza, tem o apelido de Dinossauro Verde. Há dez anos a área é protegida por lei e ganhou um pequeno museu. Robson recebe pesquisadores do mundo todo, dá entrevistas, cuida da conservação e da limpeza e mistura a história de sua vida com a das pedras. E ainda escreve crônicas e cordéis. “Foi um pacto que fiz com Leonardi. Eu pedi a ele prá ajudar a transformar isso num parque e prometi cuidar de tudo até morrer. E quero ser enterrado aqui, no Vale dos Dinossauros”, diz Robson, que já foi chamado de maluco. “Mas não me importo. O que seria do universo sem nós, os cândidos malucos?”