Emir Sader

Calendário de eleições e referendos já agita o continente

Disputas de 2015, com embate entre o pós-neoliberalismo e as forças do retrocesso, ainda ressoam na região

Agência Brasil

Contexto mudou, com as derrotas de Kirchner e Maduro (foto) e a decisão de Rafael Correa não concorrer a reeleição

Os ecos das disputas de 2015 ainda ressoam na América Latina – especialmente na Argentina e na Venezuela – e o calendário eleitoral e de referendos de 2016 já agita o continente. O ano tem eleições presidenciais no Peru, locais no México, referendo na Bolívia e, eventualmente, na Venezuela. Além da assinatura e começo da vigência dos acordos de paz na Colômbia.

O ano começa politicamente, em 20 de fevereiro, com o referendo sobre a possibilidade de Evo Morales e Álvaro Garcia Linera se candidatarem a um novo mandato em 2020. A Constituição não previa essa possibilidade, mas o Congresso aprovou a reforma, que agora é submetida a consulta popular. A aprovação do governo é alta, os eventuais candidatos à presidência da oposição – os mesmos de sempre – tem muito pouco apoio, mas a nova eleição de Evo encontra dificuldades.

O contexto internacional mudou, com as derrotas de Cristina Kirchner e Nicolás Maduro e com a decisão de Rafael Correa de não concorrer a uma nova reeleição, diante dos duros ataques e mobilizações contra ele por parte da oposição. Além do que, no plano interno, a revelação de casos de corrupção no Fundo Indígena, envolvendo inclusive lideres próximos a Evo – alguns já presos, outros processados – representam um desgaste de que se vale a oposição para a campanha do não. As pesquisas, que davam um resultado equilibrado no início, passaram a dar vantagens para a oposição, mas posteriormente o governo voltou a aparecer como favorito.

As eleições presidenciais no Peru reforçam a tendência do país nas últimas décadas: governos eleitos que se desgastam rapidamente por não alterar substancialmente as péssimas condições sociais da massa da população são sucedidos pelo retorno de antigos dirigentes ou candidatos. Desta vez, o fracasso de Ollanta Humala (2011-2016) – que sucede os fracassos de Alberto Fujimori (1990-2000), de Alejandro Toledo (2001-2006) e de Alan García (2006-2011) – recoloca o nome da filha de Fujimori, Keiko, como favorita – ela foi derrotada por estreita margem por Humala em 2011. São candidatos, entre tantos outros, Alejandro Toledo e Alan García. A esquerda, que tinha se comprometido com Humala, sai uma vez mais enfraquecida e não tem candidatos com força.

A oposição venezuelana promete tentar substituir a Nicolás Maduro na presidência, o que teria de ser feito pela convocação do referendo revocatório, mediante a assinatura de 20% dos eleitores inscritos. A dificuldade vem de que o término do mandato do presidente só poderia ser conseguido com uma votação superior à que ele teve quando foi eleito, cifra muito alta. Mas pode se colocar a questão na metade do mandato de Maduro.

As eleições locais no México podem dar uma ideia da força dos partidos, depois que as eleições para governador mostraram um PRI enfraquecido, mas ainda o mais forte no plano nacional, um PAN muito debilitado, assim como o PRD, e a ascensão, ainda que pequena, do Morena, o partido de López Obrador.

Finalmente, a conclusão dos acordos de paz na Colômbia pode ser submetida a referendo nacional, ao que se opõem as Farc, mas que o governo de Juan Manuel Santos já encaminhou ao Congresso e deve ser aprovado. Além da finalização dos detalhes e do começo de sua implementação, assim como o avanço nas negociações de paz também com o ELN.

Mas o clima político deve continuar aquecido na Argentina (pelos choques entre o governo Macri e a oposição), no Brasil (pela crise econômica e também política) e no Equador, pelas mobilizações da oposição contra o governo e pela escolha pela Aliança País do candidato à sucessão de Rafael Correa.

A recessão internacional fará com que as economias do continente fiquem estagnadas, com pequeno crescimento de países da América Central e da Bolívia.