Marcio Pochmann

EUA, China e economia mundial: o peso do investimento

Se a principal economia do mundo não oferece horizonte sustentável à expansão do capitalismo mundial, por que concentrar razões do mal-estar atual aos chineses?

Fernanda Carvalho/Fotos Públicas

No ano de 2015, a China cresceu 6,9%, com a força do dinamismo industrial e, cada vez mais, do setor de serviços

Tem sido comum nas avaliações recentes depositar responsabilidade superior à China diante da trajetória descendente da economia mundial. Deve ser um desvio ideológico grave, pois embora tenha reduzido o ritmo de crescimento a China segue sendo uma das economias mais dinâmicas do mundo. O mesmo não se pode observar no desempenho dos Estados Unidos, cada vez mais identificado ao quadro de estagnação secular.

No ano de 2015, por exemplo, a China cresceu 6,9%, com a força do dinamismo industrial e, cada vez mais, do setor de serviços, que ultrapassou os 50% do Produto Interno Bruto do país. Ao mesmo tempo, a China converte-se da economia de base exportadora para ficar cada vez mais assentada na expansão do seu mercado interno.

Por outro lado, a fraqueza econômica estadunidense aparece a olhos nus, aprofundando ano após ano a tendência regressiva do subdesenvolvimento. Não apenas o baixo dinamismo do seu sistema econômico, mas a decadência dos investimentos, sobretudo os industriais, que se encontram rebaixados para menos de 10% do produto.

Se a principal economia do mundo não oferece horizonte sustentável à expansão do capitalismo mundial, por que concentrar razões do mal-estar atual à China? O problema são os Estados Unidos enquanto central da difusão dos gastos militares e da reprodução do improdutivismo pelas altas finanças e dominância de Wall Street.

Recentemente, a Associação dos Engenheiros Civis dos Estados Unidos divulgou relatório sobre a trágica situação da infraestrutura naquele país (Report Card, da Asce). De acordo com os oito critérios adotados (capacidade, condição de financiamento, necessidades futuras, operação e manutenção, segurança pública, resiliência e inovação) e as cinco classificações possíveis (A = Excepcional; B = Bom; C = Medíocre; D = Pobre; E = Reprovado), a nota geral desde 1998 tem sido a D (infraestrutura pobre).

No quesito meio ambiente, por exemplo, o risco é elevado e crescente para as mais de 84 mil barragens do país, cuja idade média é de 52 anos. Da mesma forma, a infraestrutura de água potável está chegando ao fim de sua vida útil, com mais de 240 mil quebras principais de água por ano nos Estados Unidos.

Se considerar a presença de resíduos perigosos, a situação é preocupante, no mínimo. Pela Agência de Proteção Ambiental, cerca de um em cada quatro estadunidenses vive dentro de um perímetro de cinco quilômetros contendo um depósito de resíduos perigosos.

Na temática dos transportes, registra-se, por exemplo, que as mais de 200 milhões de viagens realizadas diariamente nas 102 maiores regiões metropolitanas ocorrem nos Estados Unidos sobre pontes cada vez mais deficientes. Uma a cada nove pontes são classificadas como estruturalmente deficientes, enquanto a idade média das mais de 607 mil pontes é de 42 anos.

Ao contrário do conjunto da infraestrutura dos Estados Unidos, o sistema de trânsito não é abrangente. Parcela significativa tem níveis de serviço inadequados. O efeito dominó da deterioração da infraestrutura sobre o conjunto da economia parece inegável.

Para recuperar o padrão de infraestrutura de um país desenvolvido, os Estados Unidos precisariam de mais de US$ 3,1 trilhões de investimentos. Em consequência, a possibilidade de geração de 3,1 milhões de novos empregos, de ampliação de US$ 2,4 trilhões gastos pelas famílias e de elevação dos gastos em US$ 1 trilhão nos setores de comércio e serviços. Sem a retomada consistente dos investimentos nos Estados Unidos, salvo nos mercados especulativos, a trajetória do subdesenvolvimento segue intacta.