Rádio. Projeto em expansão

Parceria com emissoras comunitárias e ocupação de novas faixas em FM ampliam alcance da Rádio Brasil Atual e de conteúdos de jornais, revista, TV e portal

Este mês, a Rádio Brasil Atual expande seu projeto de comunicação popular, que teve início com o Jornal dos Trabalhadores. Transmitido inicialmente na Rádio 9 de Julho AM, o programa foi rebatizado Jornal Brasil Atual, com veiculação em emissoras FM, em regime de compra de horário. Posteriormente, passou a compor a plataforma da Rede Brasil Atual, projeto de comunicação amplo que une dezenas de entidades sindicais – representando trabalhadores dos setores financeiro, metalúrgico, químico, de saúde, energia, educação e de serviços, entre outros. A iniciativa agrega ainda a Revista do Brasil – que completou seis anos em junho –, jornais regionais impressos, a TV dos Trabalhadores (TVT) e o portal de notícias.

A expansão do projeto tem como marco o dia 6 de julho, quando é oficializada a concessão de novo espaço radiofônico em FM para projeto de rádios educativas geridos por entidades de trabalhadores. A FM 98,9, com sede em Mogi das Cruzes, terá alcance na Grande São Paulo, podendo chegar até São José dos Campos. A FM 93,3, de São Vicente, sintonizada na Baixada Santista desde Bertioga, no litoral norte, até Praia Grande, no litoral sul. E a FM 102,7, irradiada de Pirangi, a 370 quilômetros da capital paulista, para cidades do noroeste do estado, como Catanduva, São José do Rio Preto, Barretos e Bebedouro.Radio J dos Trabalhadores (Foto: Débora Piloni/Sinergia)

Elias e Cecília, do Jornal dos Trabalhadores, programa do Sinergia transmitido por 150 rádios comunitárias de SP em parceria com a Abraço (Foto: Débora Piloni/Sinergia-CUT)

“Além de lutar pela democratização da comunicação no país, estamos criando nossos próprios meios”, afirma o diretor de Comunicação do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Valter Sanches, responsável pela direção das rádios educativas. A luta do sindicato pela democratização dos meios de comunicação começou na década de 1980 com o projeto da TVT, que se tornou realidade durante o governo de Luiz Inácio Lula da Silva. No ano passado, o sindicato chegou a colocar uma rádio comunitária no ar para pautar essa discussão e, após a experiência, entrou com dois pedidos de outorga para a concessão de espaço radiofônico.

“O grande desafio da cidadania, do movimento sindical e social é criar uma plataforma de mídia com posição relacionada ao mundo do trabalho, aos direitos humanos, que faça crescer um Brasil inclusivo e socialmente justo”, defende Paulo Salvador, dirigente do Sindicato dos Bancários de São Paulo e diretor-geral da Rede Brasil Atual. 

A expansão do projeto de comunicação sindical se dá num momento em que setores da sociedade avançam nas pressões para cobrar do governo a regulamentação das telecomunicações, conforme determina a Constituição. “É um momento importante, principalmente quando a gente constata, estarrecido, a suspeita de que a imprensa tradicional pode ter também um papel criminoso”, afirma Sanches, lembrando a relação entre Carlos Cachoeira e a Editora Abril, revelada por gravações obtidas pela Polícia Federal para a Operação Monte Carlo.

O sindicalista considera que o fato traz a urgência de discutir a regulamentação dos meios de comunicação de forma a garantir que a mídia preste um serviço de qualidade à população e não sirva apenas a interesses comerciais e políticos. E ressalta a proposta de comunicação popular das entidades sindicais como um caminho sem volta. “Os diversos meios colaboram entre si, formando uma rede de comunicação, porque o projeto prioriza o compartilhamento de informação e a interação entre esses meios”, afirma. “Queremos ter um olhar sobre a nossa cultura e o direito de ocupar o espaço sem ficar reféns dessas famílias que estão há um século fazendo um jornalismo que não é o nosso. Queremos construir uma mídia que tenha a cara desse novo Brasil”, ressalta Paulo Salvador. 

Sanches (esq.), junto aos transmissores na Baixada Santista: democratização (Foto: Rossana Lana/SMABC). E Paulo Salvador, na Rede Brasil Atual: mídia com a cara do novo Brasil (Foto: Vander Fornazieri)

Valter Sanches e Paulo Salvador (Fotos: Rossana Lana e Vander Fornazieri)

Democratizar ferramentas

Os dois dirigentes apostam na expansão do meio radiofônico como forma de ampliar a produção dos conteúdos. “O rádio é tradicionalmente uma companhia para as pessoas mesmo quando estão em trânsito”, diz Sanches. O eixo central das rádios será a programação da Rádio Brasil Atual, com prestação de serviços, assuntos de interesse da cidadania, do consumidor, abordagens em cultura, direitos humanos e mundo do trabalho. 

O material produzido na capital paulista será complementado com a produção das equipes de cada município, com foco na realidade local das regiões alcançadas pelas emissoras, com a produção das edições regionais impressas do Jornal Brasil Atual, hoje distribuído em 15 cidades, e com o suporte do noticiário geral, do Brasil e do mundo, produzido e veiculado a partir de plataformas já consolidadas, como a Rede Brasil Atual, a TVT, a Revista do Brasil e o jornal ABCD Maior. A expectativa é compartilhar o conteúdo com mais de mil rádios comunitárias.

A experiência com as rádios comunitárias teve início com a parceria entre a rádio do Sindicato dos Trabalhadores Energéticos de São Paulo (Sinergia-CUT) e a Associação Brasileira de Radiodifusão Comunitária (Abraço), em Campinas. O projeto de rádio do Sinergia deu continuidade ao Jornal dos Trabalhadores, retransmitido para a região até 2007 pela Rádio Brasil AM. Começou com a participação de 13 rádios comunitárias na retransmissão. Hoje são cerca de 100, formando uma rede propagadora do conteúdo local, e também gerado pela Rádio Brasil Atual. “Foi a melhor experiência de comunicação que o movimento de rádios comunitárias teve até hoje no estado de São Paulo”, afirma o coordenador da Abraço para a região Sudeste, Jerry Oliveira.

A experiência em Campinas contribuiu com uma proposta formulada na 1ª Conferência Nacional de Comunicação, em 2009: a possibilidade de composição de redes entre as rádios comunitárias. “Essas emissoras são muito perseguidas, e a rede é uma forma de fortalecimento, pois cria uma relação de proteção”, afirma Marcelo Fiório, dirigente do Sinergia e um dos responsáveis pela criação da Rede Brasil Atual e, agora, pela implementação do projeto.

Essa parceria, segundo Fiório, fortaleceu tanto as rádios comunitárias como o movimento sindical. “É um ponto de aglutinação entre as rádios, tem servido de possibilidade de crescimento da organização do movimento de rádios comunitárias.” A experiência das comunitárias também contribui para a formação de comunicadores populares. “Os trabalhadores se apropriam das tecnologias de comunicação e passam a se tornar produtores de conteúdo, e não mais meros consumidores.”