Lenda e realidade

Carcaju e a força do feminino no programa ‘Hora do Rango’

“As principais mensagens desse trabalho são a do despertar, como ser e se tornar mulher e compreender o meio que nos envolve”, diz a vocalista Claudia Dantas

Marina Malheiro/Divulgação

Banda se prepara para lançar primeiro álbum, com 10 canções e uma mescla de gêneros e ritmos da música brasileira

São Paulo — Diz a lenda que Carcaju é uma mulher que recolhe ossos de lobas mortas e entoa cantos sobre eles a fim de curar o que está doente ou precisa de restauração, fazendo-as renascer em forma de mulher. A história, contada no livro Mulheres que Correm com os Lobos, de Clarissa Pinkola Estés, foi a inspiração para o nome da banda Carcaju, que participa do programa Hora do Rango desta terça-feira (19).

“Todo o meu cantar tem a ver com algo sagrado pra mim, então, no momento em que estava lendo essa obra, a lenda que guia todo o processo do livro me despertou muito interesse”, explica a vocalista Claudia Nishiwaki Dantas. Além dela, o grupo é composto por Felipe Rezende (bateria), Pedro Canales (baixo), Ivan Liberato (violão e backing vocals), e Rodrigo Passos (guitarra e vocal).

O grupo se prepara para lançar o primeiro álbum, também chamado Carcaju, viabilizado por meio de financiamento coletivo e finalizado em outubro de 2018. O álbum traz como espinha dorsal o feminino e as várias formas como ele se manifesta pelo sagrado, o desejo, a maternidade e o meio urbano. São 10 canções, com uma mescla de gêneros e ritmos da música popular brasileira, guitarra elétrica distorcida, violão acústico, batuques e linhas de baixo elaboradas, dialogando com o rock progressivo e a cultura pop.

“As principais mensagens desse trabalho são a do despertar, como ser e se tornar mulher e compreender o meio que nos envolve”, diz Claudia. Segundo ela, foi no processo de produção do disco que começou a compreender a si mesma, instintivamente, sem o filtro social que molda a mulher contemporânea. “As letras expressam a minha essência mais primordial, de mulher selvagem.”

O que rolou

O Hora do Rango abriu a programação semanal nesta segunda (18) com a sonzeira do grupo Francisco, El Hombre, que apresentou seu novo álbum, Rasgacabeza, um trabalho que, segundo a própria banda, “não é de meios termos, nem de meias palavras”.

“Ora soa freak, ora soa punk, ora soa do jeito que tem que soar – fora da caixinha de definições pré-estabelecidas – para fazer reverberar a proposta da banda de expurgar vivências, urgências e o que mais estiver entalado por meio de canções”, explica o grupo formado por Juliana Strassacapa, Mateo Piracés-Ugarte, Sebastián Piracés-Ugarte, Andrei Martinez Kozyreff e Rafael Gomes.

Sucessor do álbum Soltasbruxa (2016), que levantou questões sociopolíticas, feministas e de igualdade, Rasgacabeza procura manter um discurso latente, com uma linguagem mais eletrônica e tons mais agressivos. As músicas trazem o caos urbano como premissa estética e procuram cutucar feridas abertas. O álbum começa com a música Chama adrenalina: gasolina, seguido pela faixa Chão teto parede: pegando fogo.

“O Brasil estava em uma situação política muito tensa e queríamos que tudo inflamasse”, recorda-se Sebastián. “É um pouco niilista o pensamento de que tem que queimar tudo para que então ressurja, mas, no calor do momento, era o que a gente estava vendo como solução”, complementa.

Produzido pelos irmãos Mateo e Sebastián Piracés-Ugarte, junto aos demais integrantes da Francisco, el hombre, Rasgacabez foi gravado pela própria banda, boa parte em meio às turnês pelo Brasil e pela América Latina. Uma caixa foi captada em Santiago, no Chile; um beat foi registrado no avião; uma guitarra gravada em Goiânia. Parte do trabalho foi feito no estúdio Costella com Alexandre Capilé, enquanto a mixagem ficou por conta de Pedro Garcia, baterista do Planet Hemp. A masterização é de Fernando Sanches, do estúdio El Rocha.

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