Estado paralelo

Vantagem de Bolsonaro sobre Lula no Rio aumenta em áreas controladas por milícias, mostra pesquisa

Segundo estudo, presidente venceu Lula por 50% a 42% no Grande Rio, mas a vantagem foi de 53% a 39% nas áreas controladas por paramilitares

"Se não fizermos nada agora, aonde vamos chegar? A sociedade fluminense precisa fazer essa reflexão”, diz cientista político

São Paulo – Pesquisa da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) confirma avaliações empíricas de que o bolsonarismo tem parceria com as milícias. O estudo mostra em números tirados do primeiro turno que essa constatação pode ser comprovada por métodos científicos. Jair Bolsonaro (PL) teve 8 pontos percentuais a mais nos votos do que Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na região metropolitana do Rio, na eleição desde sempre polarizada deste ano.

Porém, nas áreas dominadas pelas milícias, Bolsonaro amplia a vantagem para 14 pontos percentuais, diz o estudo, obtido pela revista piauí. Ainda com a presença na disputa de Simone Tebet (MDB) e Ciro Gomes (PDT), o presidente venceu Lula por 50% a 42% no Grande Rio, com seus 19 municípios, enquanto a vantagem foi de 53% a 39% nas áreas controladas por milícias.

“Embora à primeira vista a diferença pareça pequena, em uma eleição tão acirrada quanto essa ela é muito significativa”, afirma Josué Medeiros, cientista político e coordenador do Observatório Político e Eleitoral da UFRJ.

Segundo a reportagem, o “curral eleitoral do bolsonarismo” cresce há 10 anos. Em 2012 havia 833 mil eleitores em áreas dominadas por paramilitares, o que representa 9,6% do eleitorado de toda a região metropolitana. Hoje, esse número é de 1,4 milhão de pessoas, ou 14,8% da região metropolitana. É maior do que o eleitorado de Recife.

Áreas controladas pelo tráfico

Já nas áreas controladas por Comando Vermelho, Terceiro Comando Puro e Amigos dos Amigos (facções do tráfico de drogas), o eleitorado permaneceu estável, com 9,7%. De acordo com estudo divulgado pelo Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos (Geni), da Universidade Federal Fluminense (UFF), e pelo Instituto Fogo Cruzado, em setembro, de 2006 a 2021 as áreas controladas por forças paramilitares cresceram 387,3%, de 52,6 para 256,3 quilômetros quadrados, uma área equivalente a 10% de toda a extensão do Grande Rio.

Os dados do estudo são cruzados com estatísticas do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A expansão miliciana também corresponde a quase duas vezes o tamanho da cidade de Niterói. Ou ainda, a 64 Copacabanas, o famoso bairro da zona sul carioca. 

Para Medeiros, se as instituições de Estado permanecerem sem reação diante dessa expansão, se nada for feito, as milícias continuarão tendo cada vez mais poder político no Rio de Janeiro. Com 12,8 milhões de eleitores, o estado do Rio é o terceiro maior colégio eleitoral do país, ou 8,2% do total, depois de São Paulo e Minas Gerais.  “Sabemos que os milicianos sempre buscaram ter representação política. Por isso, se não fizermos nada agora, aonde vamos chegar? A sociedade fluminense precisa fazer essa reflexão”, afirma o cientista político.

Leia a íntegra da reportagem de piauí.