Segundo mandato de Eduardo Paes é a chave do futuro do PMDB no Rio

Prefeito terá de unir eficiência administrativa e habilidade política para ajudar o partido a fazer o sucessor do governador Sérgio Cabral em 2014

Desfeitos os rumores de que Eduardo Paes (centro) pode ser o candidato à sucessão de Cabral (direita), o desafio do PMDB é dar força à candidatura de Luiz Fernando Pezão (esquerda). (Foto: José Cruz. Agência Brasil)

Rio de Janeiro – A consolidação de Eduardo Paes como integrante do primeiro time da política nacional após sua reeleição no primeiro turno com mais de dois milhões de votos coloca o prefeito do Rio de Janeiro como figura-chave para definir o controle de seu partido, o PMDB, no estado, assim como o futuro imediato da aliança com o PT e a sucessão para o governo estadual no ano que vem. Do desempenho de Paes na primeira metade de seu segundo mandato dependerá o arranjo do tabuleiro eleitoral fluminense em 2014, além do próprio futuro político do prefeito.

Antes de conhecer a “glória olímpica” em 2016, Paes precisará demonstrar força administrativa e habilidade política para executar as intervenções – muitas delas impopulares – que pretende fazer na cidade, e ainda evitar uma nova fragmentação peemedebista que impeça o partido de fazer o sucessor do governador Sérgio Cabral. Não será fácil, e o prefeito do Rio ainda terá de fazer isso tudo sem perder o controle sobre a saúde financeira do município. Ciente dessa dificuldade, Paes sequer esperou para depois do carnaval – como se convencionou fazer na política carioca – para entrar em campo e anunciar medidas nas duas frentes.

No que diz respeito à política, a tarefa mais urgente é fortalecer o nome do vice-governador Luiz Fernando Pezão como candidato do PMDB à sucessão de Cabral em um cenário eleitoral que começa a se desenhar com duas candidaturas fortes para 2014: o senador Lindbergh Farias (PT) e o deputado federal e ex-governador Anthony Garotinho. Nessa seara, a primeira ação de Paes tem sido reiterar o apoio a Pezão e desmentir os rumores que colocam o próprio prefeito do Rio como possível candidato ao Palácio Guanabara no ano que vem.

Logo em seu primeiro dia de mandato, Paes aproveitou a cerimônia de posse de seu novo secretariado para garantir que permanecerá no cargo até o fim de 2016 e manifestar apoio a Pezão, que estava presente ao lado de Cabral: “Eu repito para que não restem dúvidas. Não deixo essa missão de ser prefeito de jeito nenhum. Não abro mão do meu mandato um minuto sequer. O meu candidato a governador chama-se Luiz Fernando Pezão”, disse.

Mas, consolidar o nome de Pezão é uma tarefa que exige mais que palavras. É também urgente aparar arestas no PMDB fluminense de modo a evitar que, em caso de um mau início do candidato do partido nas pesquisas de opinião, ocorram dissidências em direção a outras candidaturas. Esse perigo existe de forma tênue em relação a Lindbergh, já que o PT e o PMDB são aliados nacionais, mas é muito mais forte em relação a Garotinho, que, mesmo no PR, ainda mantém um pé no partido de Paes e Cabral e uma relação de influência com diversos prefeitos do interior do estado.

A ação mais clara do governador e do prefeito no sentido de manter coladas as peças do quebra-cabeça peemedebista no Rio são as gestões feitas junto ao vice-presidente Michel Temer e às bancadas parlamentares em Brasília para que o deputado federal Eduardo Cunha assuma a liderança do partido na Câmara. Polêmico, Cunha foi durante muitos anos um dos principais expoentes da tropa de choque dos governos de Anthony e de Rosinha Garotinho, mas permaneceu no PMDB quando o casal deixou o partido após romper com Cabral. Cunha nunca foi do mesmo grupo de Paes, mas o prefeito confirmou na sexta-feira (11) seu apoio à indicação do deputado para líder da bancada do partido em Brasília.

Câmara e secretariado

Já em relação à política municipal, Eduardo Paes não deverá enfrentar maiores dificuldades em seu segundo mandato. Na Câmara dos Vereadores, o prefeito conta com o apoio de pelo menos 40 dos 51 parlamentares, sendo 13 do próprio PMDB. Reeleito, o presidente da Câmara será o vereador Jorge Felippe (PMDB), e a oposição a Paes deverá se resumir às bancadas do PSOL (quatro vereadores), do DEM (três vereadores), do PR (dois vereadores) e do PSDB (dois vereadores).

Paes também terá a formação do seu secretariado como trunfo na hora de fazer política. Entre os sete novos secretários empossados no primeiro dia do ano, a presença do ex-deputado Índio da Costa – candidato a vice na chapa de José Serra à Presidência da República em 2010 – sacramentou a entrada do PSD na administração municipal. Quem também pode estar perto é o PV, pois o prefeito já teria sondado a deputada estadual Aspásia Camargo para ocupar uma secretaria. Os verdes, no entanto, negam o contato.

Cortes e obras

Após um primeiro mandato no qual conseguiu manter a boa saúde das finanças do Rio – foram R$ 4,5 bilhões em investimentos somente em 2012 –, Paes terá pela frente agora o desafio do corte de gastos públicos. Logo no primeiro dia do novo mandato, o prefeito anunciou cortes de 10% nos contratos para fornecimento de serviços, de 10% nos encargos especiais (que incluem cargos comissionados) e de 15% nos contratos de aquisição de veículos (com exceção de ambulâncias e carros de patrulha da Guarda Municipal). Segundo a Casa Civil, espera-se que, com os cortes anunciados, a prefeitura economize até R$ 200 milhões em 2013.

Além dos cortes, que sempre provocam descontentamento na base de apoio, o prefeito terá de conviver também com a natural – e crescente – insatisfação da população com algumas obras e intervenções destinadas às realizações da Copa do Mundo de 2014 e da Olimpíada de 2016. Em pontos diversos do Rio, o ano começou com obras de construção de infraestrutura de transportes e de revitalização da zona portuária que fecharam ruas importantes e complicaram o já tumultuado trânsito da cidade.

Paes sofrerá também a oposição organizada dos movimentos sociais, sobretudo os ligados ao direito à moradia. Uma primeira batalha promete ser travada ainda este mês em torno da proposta de demolição da Escola Municipal Friedenreich, avaliada como a quarta melhor do Rio, prevista no projeto de reforma do Maracanã e seu entorno. O prefeito insiste na remoção da escola, mas a oposição já iniciou um movimento pelo seu tombamento.

Leia também

Últimas notícias