Saída de Garotinho pode decidir governo do RJ no 1º turno

Rio de Janeiro – As novidades políticas que vêm sacudindo estes últimos dias de pré-campanha trazem conseqüências imediatas para a disputa eleitoral no Rio de Janeiro. A desistência do ex-governador […]

Rio de Janeiro – As novidades políticas que vêm sacudindo estes últimos dias de pré-campanha trazem conseqüências imediatas para a disputa eleitoral no Rio de Janeiro. A desistência do ex-governador Anthony Garotinho (PR) de tentar voltar ao Palácio Guanabara e a confirmação, na chapa do tucano José Serra à Presidência, de um vice indicado pelo ex-prefeito Cesar Maia (DEM) movimentam dois dos mais importantes grupos políticos do estado e podem indicar novos rumos para as disputas pelo governo estadual e pelo Senado.

A saída de Garotinho do páreo, anunciada pelo próprio durante a convenção do PR realizada na quarta-feira (30), praticamente determina que a definição do próximo governador do Rio aconteça já no primeiro turno. A disputa, da maneira como está desenhada, ficará restrita aos candidatos Sérgio Cabral (PMDB), que tenta a reeleição, e Fernando Gabeira (PV). Os cerca de 20% das intenções de voto que Garotinho apresentava nas pesquisas devem se dividir entre esses dois. A escassez de candidatos também apresenta uma oportunidade de crescimento para os pequenos partidos de esquerda, que terão como postulantes ao governo estadual o veterano Cyro Garcia (PSTU) e o novato Jefferson Moura (PSOL).

Em um discurso emocionado, ao lado da mulher, Rosinha Matheus (prefeita de Campos), e da filha Clarissa Garotinho (vereadora pelo PR no Rio de Janeiro), o ex-governador anunciou que concorrerá a uma vaga na Câmara dos Deputados e “atuará pela construção de uma grande bancada do PR”. Na prática, não restou outra opção a Garotinho, que tem sobre a cabeça a espada da Justiça Eleitoral e de uma condenação, ao lado de Rosinha, a três anos de inelegibilidade por abuso de poder econômico nas eleições municipais de 2008.

O ex-governador havia obtido na terça-feira (29) junto ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) uma liminar que suspendia sua condenação pelo Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro até que o TSE se manifestasse sobre o recurso apresentado. Isso, em tese, permitiria o registro de sua candidatura ao governo, mas a possibilidade de nova derrota no TSE acabou pesando na definição de Garotinho: “Eu sou inocente e confiava na decisão do TSE. Mas, conversando com a família e dentro do partido, preferi não disputar o governo. Quero ajudar o PR a atingir a meta de eleger doze deputados federais pelo Rio e ter uma atuação destacada em Brasília”, disse.

Mesmo soando como palavras de consolo por sua saída forçada da disputa pelo Palácio Guanabara, o discurso de Garotinho é verdadeiro ao revelar outro enredo político que corre paralelo às eleições no Rio e é o fortalecimento do PR (antigo PL) no cenário nacional. Até a semana passada, o partido, que faz parte da base de apoio ao governo Lula, ainda se dividia entre o grupo que pregava apoio à candidatura da petista Dilma Rousseff (liderado por Alfredo Nascimento, ex-ministro dos Transportes e candidato ao Governo do Amazonas) e o grupo que defendia a aliança com o tucano José Serra (liderado por Valdemar da Costa Neto).

Apesar do discurso de apoio à candidatura petista, Garotinho, recém-chegado ao PR, sempre se colocava nas discussões internas entre os grupos de Nascimento e Costa Neto. Nos últimos meses, percebendo que não conseguiria dividir com Cabral a preferência do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de Dilma durante a campanha, o ex-governador já aceitava uma aproximação com o PSDB e, segundo assessores, já teria até mesmo realizado um primeiro encontro com Serra.

Jogada de mestre

A tese do apoio ao tucano, no entanto, foi derrotada antes mesmo da convenção do PR. Para isso contribuiu uma jogada de mestre do PT, que foi convidar o pastor Manoel Ferreira, líder nacional da Assembléia de Deus e dirigente do PR, para “coordenar o setor evangélico” da campanha de Dilma. Ferreira, que seria candidato ao Senado no Rio, aceitou de pronto o convite e desistiu de concorrer ao cargo parlamentar, num gesto anunciado como “de apoio e solidariedade a Garotinho”. Por trás deste acordo, no entanto, foram fechadas as bases da participação do PR num eventual governo Dilma.

O episódio da saída do pastor Manoel Ferreira da disputa pelo Senado também pode ser contabilizado como mais uma das bem-sucedidas articulações políticas incentivadas pelo presidente Lula. Ao tirarem o dono da Assembléia de Deus do páreo, Lula e a direção nacional do PT beneficiaram diretamente o senador Marcelo Crivella (PRB), líder da Igreja Universal do Reino de Deus e firme aliado do governo petista. Crivella tenta a reeleição e agora não terá mais a incômoda concorrência de Ferreira na disputa pelo numeroso eleitorado evangélico.

Apesar de a coligação entre o PT e o PMDB no Rio de Janeiro ter definido os nomes do ex-prefeito de Nova Iguaçu, Lindberg Farias (PT), e do presidente da Assembléia Legislativa, Jorge Picciani (PMDB), como candidatos ao Senado, Lula sempre deixou claro seu apoio à reeleição de Crivella. Sem poder interferir na decisão soberana dos partidos, o presidente, com a concretização da saída de Ferreira, construiu uma interessante maneira de ajudar a Crivella. Resta agora saber qual impacto essa novidade trará a petistas e peemedebistas no decorrer da campanha eleitoral.