Descasamento

Ruptura de Campos com Dilma causa princípio de debandada no PSB

Depois de Cid e Ciro Gomes revelarem intenção de sair do partido, prefeito de Duque de Caxias (RJ), Alexandre Cardoso, e integrantes do diretório estadual foram punidos por defender aliança no estado

Sérgio Lima/Folhapress

O presidente da sigla disse esperar que a saída dos irmãos Cid e Ciro Gomes se dê de modo fraterno

Brasília – As primeiras reações ao rompimento do PSB com o governo partem do Ceará e do Rio de Janeiro. O governador do Ceará, Cid Gomes, e seu irmão Ciro Gomes anunciaram ontem (24), intenção de deixar o partido para manter o apoio à reeleição da presidenta Dilma Rousseff. Hoje, socialistas do Rio de Janeiro formalizaram, a primeira punição a um correligionário depois da ruptura.

A direção executiva nacional do partido decidiu afastar o prefeito do município fluminense de Duque de Caxias, Alexandre Cardoso, da presidência do diretório estadual do Rio de Janeiro, bem como todos os secretários e coordenadores do diretório. Todos, por defender a presença do PSB na base de apoio ao governo federal, estariam trabalhando nos bastidores pela filiação de deputados estaduais e federais do partido ao PMDB, como forma também de apoiar o vice-governador do estado, Luiz Fernando Pezão (PMDB), ao governo, em 2014. A executiva também determinou a abertura de um processo disciplinar contra Cardoso, no conselho de ética do partido.

O prefeito e ex-deputado federal considerou a decisão arbitrária. E disse ao final da reunião que a maioria dos integrantes do PSB no Rio de Janeiro prefere a candidatura de Pezão. “Esse foi o acordo firmado (o do apoio ao vice-governador em 2014) e levei a disposição da maioria do PSB do Rio ao governador Sérgio Cabral. Mas aí houve a decisão do Eduardo Campos de entregar os cargos”, contou. Cardoso ressaltou que um afastamento como o dele não pode ser decidido por reunião de executiva e sim, reunião de diretório. E pediu que o estatuto do partido fosse respeitado: “Será que, daqui por diante, todos no PSB que apoiam a presidenta Dilma Rousseff estarão errados?”

O governador de Pernambuco, Eduardo Campos, presidente nacional da legenda, afirmou que o que foi observado, no caso do Rio, foi um trabalho de militantes do PSB a favor de outros partidos, com o intuito de esvaziar a legenda no estado. Ao ser questionado sobre a saída iminente de Cid e Ciro Gomes, Campos disse que a sua intenção é que a saída do grupo do governador cearense ocorra dentro do que chamou de “diálogo fraterno”. Mas, no momento, a preocupação principal do PSB é com a entrada de novos quadros, “e não com quem sai”.

Conversa e espera

Cid Gomes já reiterou a Campos sua decisão de manter o apoio ao governo Dilma. Ele chegou a se reunir com seu grupo político para articular a saída ainda hoje, mas voltou atrás e decidiu esperar para formalizar a decisão nos próximos dias, em Fortaleza. Por trás desse recuo estaria, segundo deputados socialistas, o acerto firmado entre entre os governadores de Cerá e Pernambuco para que a saída aconteça sem maiores hostilidades, de forma que ninguém do PSB no Ceará venha a ser punido por infidelidade partidária.

A ruptura aconteceu depois que tomou corpo no Ceará, no final de semana, o convite feito pelo deputado Márcio França (PSB-SP) e o secretário-geral do partido, Carlos Siqueira, à ex-prefeita de Fortaleza, Luizianne Lins, para sair do PT e ingressar no PSB. A filiação teria como objetivo a candidatura de Luizianne ao governo do Ceará em 2014. Para o governador, que cogita lançar candidato escolhido por seu grupo para a sucessão, o convite foi entendido como um recado de Eduardo Campos.

“Não tinha a menor intenção de deixar o PSB, mas nos últimos dias fui alvo de hostilidades sem qualquer desmentido pela direção do partido. Entendo isso como um convite para seguir outro rumo”, chegou a declarar, em entrevista.

Gomes enfatizou, no entanto, que não quer criar inimizades dentro do partido, pois sempre teve uma postura “pública e transparente”. “A hora (de o PSB lançar candidatura própria) não é agora. Devemos nos preparar para 2018. Não tenho como deixar de apoiar a reeleição da presidenta Dilma”, repetiu, marcando terreno sobre sua posição.

Segundo o governador, o PSB convive atualmente com dois problemas: as divergências internas, que são mais amplas do que aparentam em todos os diretórios em relação ao apoio ou não dos socialistas à candidatura de Eduardo Campos em 2014 e sua aproximação com o PSDB. Fica indefinido, por conta disso, o futuro do secretário nacional de Portos, Leônidas Cristino, que é ligado aos Gomes. Cristino já tinha antecipado na semana passada que entregaria o cargo ao governo. Mas diante desse fato novo, já há especulações de que ele poderá vir a ser mantido pela presidenta Dilma.

Saias justas

Além da situação dos socialistas no Ceará e no Rio, as atenções do partido estão voltadas para os principais políticos que se posicionaram contra o rompimento do PSB com o governo federal. Casos do governador do Espírito Santo Renato Casagrande e dos senadores Antonio Carlos Valadares (SE) e Lídice da Mata (BA).

Casagrande tem evitado dar declarações à imprensa e enfrenta pressões por todos os lados. Seu governo é formado por uma coligação de 16 legendas, que tem como partidos principais o PSB e o PT. Seu vice é do PT e atualmente duas secretarias são ocupadas por petistas. E o governador é cada vez mais candidato à reeleição.

Só que o PT, no último final de semana, começou a mencionar a possibilidade de o ex-prefeito de Vitória, João Coser, vir a encabeçar uma chapa própria do partido, se for consolidado em nível estadual o rompimento observado na esfera nacional. Essa possibilidade passou a ser entendida, pelo grupo de Casagrande, como uma forma de pressioná-lo a tomar uma posição junto ao PSB.

Na Bahia, outra saia justa é enfrentada pela senadora e ex-prefeita de Salvador Lídice da Mata (PSB). Lídice apoia desde o início o governo de Jaques Wagner e é pré-candidata ao governo estadual. Com a ruptura, pode não vir a contar com o apoio de Wagner, o que inviabilizaria boa parte das alianças formadas no estado. Lídice foi contrária à saída do PSB do governo. “Não serei candidata de oposição a Jacques Wagner e a preocupação do partido, neste momento, precisa ser com as candidaturas a deputados federais e estaduais. Depois é que será discutida a questão do candidato à sucessão do governador”, acentuou.

O senador Antonio Carlos Valadares (PSB-SE), único que não se manifestou a respeito nem repassou informações por meio de sua assessoria, tem mantido nos últimos dias postura semelhante à dos demais colegas que divergiram da decisão da executiva.

Em Aracaju, seu filho, o deputado estadual Valadares Filho, presidente do diretório no estado, declarou recentemente que a ruptura não deverá alterar a relação do partido com a presidenta Dilma, nem com o governador do estado, Jackson Barreto (PMDB). Mas durante a reunião da executiva que definiu pela saída do governo Dilma, o senador ponderou aos colegas que o PSB tinha feito parte do governos do PT desde o início e que as vitórias obtidas ao longo desse período também eram vitórias do partido.

Com as primeiras baixas no Rio e no Ceará, é grande a aposta pelas legendas que irão alojar Alexandre Cardoso e o grupo de Ciro Gomes. Cardoso afirmou que foi procurado pelo PMDB, PDT, PT e PC do B, mas ainda não decidiu para qual irá. Cid Gomes foi procurado pelo PSD, de Gilberto Kassab. Gomes ainda não deu resposta, mas demonstrou interesse também de conversar com dirigentes do Pros – o Partido Republicano da Ordem Social, cuja instalação foi formalizada ontem pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).