Na Câmara

PSDB retira apoio a Cunha, e situação de deputado se complica

Outros partidos da oposição, como DEM e PPS, dão sinais de que também vão liberar seus deputados com assento no Conselho de Ética para votar contra o parlamentar

Lula Marques/Agência PT

Representantes do PSDB não mais participarão dos almoços promovidos por Cunha na sua residência oficial

Brasília – Mesmo depois das contradições das últimas semanas e em meio a dúvidas demonstradas por muitos dos seus integrantes, o PSDB decidiu oficializar sua posição em relação ao deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ). O partido divulgou hoje (11), por meio de uma nota, pedido para que Cunha deixe a presidência da Câmara, no qual declara considerar “insuficientes” as explicações dadas por ele sobre a existência de contas secretas na Suíça e patrimônio considerado atípico em relação à suas funções. É a primeira vez que a legenda toma uma postura tida como decisiva em relação a Cunha, uma vez que a primeira nota, divulgada logo depois das denúncias contra o parlamentar, terminaram sendo rebatidas por líderes tucanos e consideradas “precipitadas”.

A primeira manifestação, há cerca de dois meses, foi logo amenizada por declarações de vários parlamentares de que seria preciso ter mais provas para que o PSDB se posicionasse de forma contundente sobre o caso. Com o acirramento da situação de Cunha e as explicações dadas por ele no último final de semana – argumentos que para o Congresso não conseguiram convencer sobre sua inocência – pesou ainda mais contra o relacionamento entre o presidente e o maior partido oposicionista do país, conforme informações de bastidores, o fato de Cunha ter proposto a substituição de dois integrantes do Conselho de Ética, que pertencem à legenda, por nomes que são seus aliados.

Outra avaliação, que teria sido feita por tucanos em reunião, ontem, é de que a passividade por parte da legenda com o intuito de esperar algum aceno do presidente da Câmara no sentido de acolher o pedido de impeachment da presidenta Dilma Rousseff estaria causando mais desgastes do que nunca para a oposição, sobretudo o PSDB. E mais: fazendo com que o PSDB passasse a ser visto como um partido oportunista que toparia até se conciliar com Cunha para conseguir a saída de Dilma a qualquer custo.

Diante de tanto impasse, que durou perto de três horas de reunião, coube ao líder da legenda, o deputado Carlos Sampaio (SP), a missão de divulgar a nota nesta quarta-feira. Sampaio afirmou que os dois deputados da legenda integrantes do Conselho de Ética da Casa, Betinho Gomes (PE) e Nelson Marquezan Júnior (RS), estão autorizados a votar contra Cunha no colegiado se assim acharem conveniente.

Além disso, destacou que os representantes do PSDB não mais participarão dos almoços promovidos por Cunha na sua residência oficial. Ontem, em mais um destes almoços, o presidente da Câmara tentou amenizar sua situação, pedindo o apoio dos colegas.

‘Tudo para a cassação’

Ao comentar sobre o tema com repórteres, o líder do PSDB disse que Cunha “tem tudo para ser cassado se não apresentar provas mais consistentes no Conselho de Ética”. Os demais partidos da oposição ainda não se posicionaram oficialmente a respeito, mas tendem a seguir o mesmo caminho do PSDB. Para o líder do DEM, Mendonça Filho (DEM), “são cada vez mais consistentes as provas contra o presidente da Câmara”. O PPS ficou de se reunir esta tarde para decidir se tomará posição semelhante à dos tucanos.

Na noite de ontem, o Solidariedade divulgou que quem entrará no Conselho de Ética, em substituição ao deputado Wladimir Costa (SD-PA), que renunciou ao cargo, será mesmo o deputado Paulo Pereira da Silva (SD-SP), o Paulinho, aliado de primeira hora de Cunha. A substituição, embora divulgada como um afastamento provocado por problemas de saúde de Costa, foi tida como manobra articulada por Cunha e Paulinho para garantir votos favoráveis a ele no órgão.

O relator do processo de investigação contra o presidente no Conselho, Fausto Pinato (PRB-SP), disse há que, caso se confirme a apresentação da defesa prévia do deputado, que ele prometeu entregar na próxima segunda-feira (16), adotará todos os procedimentos para acelerar o processo.

Eduardo Cunha, embora acuado, continua se movimentando no sentido de conseguir sair da crise em que se encontra. Ele ainda não se manifestou sobre a nota do PSDB, mas já se sabe que contratou, nos últimos dias, mais advogados para aumentar sua defesa. Além do ex-procurador-geral da República Antonio Fernandes de Souza, passaram a atuar no caso o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Francisco Rezek e o advogado criminalista Pierpaolo Cruz Bottini.

O presidente se prepara para conduzir a sessão desta tarde da Câmara, como se nada estivesse acontecendo.