Outro país

Presidente veta homenagem a Jango, e ainda fala em ‘Estado democrático’

Admirador da ditadura, Bolsonaro vetou projeto que homenageava presidente deposto pelo golpe em 1964

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Eleito nas urnas, Jango foi deposto e nunca pôde retornar ao Brasil: morreu no exílio

São Paulo – Admirador assumido da ditadura, o atual presidente da República vetou integralmente projeto que homenageava o ex-presidente João Goulart, derrubado por um golpe em 1964. E na justificativa ainda falou sobre “Estado democrático”.

O veto foi publicado na edição desta quinta-feira (14) do Diário Oficial da União (DOU). O projeto original (PLS 503) foi apresentado há 10 anos pelo senador Aloysio Nunes (PSDB-SP). Depois passou na Câmara como o PL 4.261/2012. Dava o nome de “Rodovia Presidente João Goulart” ao trecho da rodovia BR-153 compreendido entre Cachoeira do Sul (RS) e Marabá (PA). Quase toda a rodovia, em uma extensão de mais de 3 mil quilômetros, passando por oito estados.

Interesse p´úblico

Na justificativa, o presidente afirmou que a proposta “contraria o interesse público” e seria oportuna por não considerar as “especificidades” de cada estado. Além disso, poderia significar “descompasso com os anseios e expectativas” da população de cada local. Por fim, disse ainda que as homenagens a personagens históricas não podem ser inspiradas “por práticas dissonantes das ambições de um Estado Democrático”.

Foi justamente João Goulart que sofreu as consequências da falta de democracia. Eleito nas urnas, foi deposto por um golpe civil-militar que lugar a uma ditadura que durou 21 anos. Nunca pôde regressar ao Brasil. Morreu no exílio, na Argentina, em 1976, e a muito custo pôde ser enterrado em São Borja (RS). Já no governo Dilma, os restos mortais de Jango foram exumados devido a uma suspeita de envenenamento, mas a aut´ópsia foi inconclusiva. O ex-presidente recebeu honras de Estado em Brasília.

Sessão de 1964 anulada

Jango foi deposto formalmente em 2 de abril de 1964. O presidente do Congresso, senador Auro de Moura Andrade, declarou vaga a Presidência da República, embora Goulart estivesse em território nacional. Em 2013, o mesmo Congresso aprovou resolução anulando a sessão de 1964. O agora presidente, que também declarou ter um torturador como herói, foi contra.

Em 2016, João Goulart passou a dar nome ao elevado conhecido como Minhocão, em São Paulo. Até então, o local homenageava Costa e Silva, um dos presidentes militares do período da ditadura.

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