Pesquisa Quaest

Pesquisa mostra que 64% dos brasileiros não confiam ou confiam pouco nas Forças Armadas

Apenas 33% dizem “confiar muito” na instituição. Maior tombo na confiança dos militares foi registrado entre bolsonaristas

Marcelo Camargo/Agência Brasil
Marcelo Camargo/Agência Brasil
Politização, golpismo e corrupção são fatores que contribuem para a deterioração da imagem dos militares

São Paulo – A confiança nas Forças Armadas sofreu queda expressiva, de acordo com pesquisa Genial/Quaest divulgada nesta segunda-feira (21). Desde o último levantamento, em dezembro de 2022, o percentual de brasileiros que diz “confiar muito” nas Forças Armadas caiu de 43% para 33%. Já a taxa daqueles que dizem confiar “confiar pouco” saltou de 36% para 41%. Além disso, os que dizem que “não confiam” nas instituições militares subiram de 18% para 23%.

Dessa maneira, as Forças Armadas, que apareciam em primeiro – ao lado da Igreja Católica – entre as instituições mais confiáveis, agora aparecem na quarta posição. Novamente, a Igreja Católica lidera o ranking, seguido pelas Igrejas Evangélicas e pela Polícia Militar. Além das Forças Armadas, todas as instituições – incluindo o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal (STF) – oscilaram dentro da margem de erro da pesquisa, que é de 2,2 pontos percentuais.

A queda mais significativa foi registrada entre os que disseram ter votado no ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no segundo turno das eleições de 2022. No grupo, aqueles que declaram “confiar muito” nos militares foram de 61% para 40%, enquanto os que dizem “não confiar” subiram de 7% para 20%.

Entre os eleitores do presidente Lula (PT), também houve queda na confiança dos militares, mas dentro da margem de erro. Os que dizem “confiar muito” somaram 43%, contra 45% na pesquisa anterior. Outros 29% confiam pouco (eram 27%); e 26% “não confiam” (eram 25%).

Diretor da consultoria Quaest, Felipe Nunes disse que a pesquisa aponta “queda expressiva” da confiança da população nos militares. Sobre a queda “mais significativa” entre bolsonaristas, os dados sugerem, na sua avaliação, “algum tipo de frustração sobre alguma expectativa que havia entre esse segmento”.

Partido Militar na berlinda

Assim, os bolsonaristas radicais estariam frustrados, pois as Forças Armadas não atenderam aos anseios por um golpe de estado para impedir a posse do presidente Lula. Contudo, para o coronel da reserva Marcelo Pimentel, a responsabilidade pela degradação da imagem das Forças Armadas é, sobretudo, dos próprios militares, em especial dos generais, através de “ações e omissões” que serviram de exemplo para o conjunto da tropa.

“Uma dessas AÇÕES – do Alto Comando inteiro – foi autorizar, incentivar e proteger as manifestações políticas de pautas antidemocráticas nas áreas militares defronte aos quartéis que, por 70 dias, transformaram aqueles lugares sob controle/’jurisdição’ dos comandantes em pardieiros golpistas incubadores do 8/1″, escreveu Pimentel, pelas redes sociais.

Nesse sentido, ele também atribui o abalo na imagem das Forças Armadas aos “militares que agiram como militantes” durante a eleição de Bolsonaro, ainda em 2018, e que participaram dos quatro anos de governo do ex-capitão, incluindo generais da ativa que ocuparam cargos no primeiro escalão, como ministros.

Do golpismo ao tráfico de joias

Além da conivência dos militares com os acampamentos golpistas, quatro militares da reserva foram presos por estimularem os atos golpistas de 8 de janeiro. Além disso, o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, está preso, junto com outros dois militares, suspeitos de participarem do esquema de falsificação de comprovantes de vacinação. A partir desta investigação, a Polícia Federal (PF) também descobriu documentos golpistas no celular do ajudante.

Em paralelo, os policiais também encontraram mensagens que mostram o envolvimento de Cid no esquema de venda ilegal de joias que Bolsonaro recebeu de autoridades estrangeiras. Além de pressionar pela entrada do conjunto milionário de brilhantes que a Receita Federal apreendeu em Brasília, a PF investiga a venda de outros kits de joias nos Estados Unidos. Inclusive o pai de Cid, general da reserva Mauro Lourena Cid, também participou das tratativas para a venda dos artefatos e a posterior entrega dos valores recebidos a Bolsonaro. A pesquisa não aponta diretamente, mas todos esses casos também abalam a imagem dos militares.